Claudio Manoel: O importante é continuar fazendo aniversário

há 1 dia 1

"Tá ficando velho!". Quando ouvi isso pela primeira vez? Nem lembro, o que mostra que o gerúndio não cabe mais. Também não recordo de quanto demorei para perceber, ou assumir a nova condição. Talvez porque, assim como o aumento de peso, a chatice, o mau hálito e a burrice, a velhice é primeiro notada pelos outros.

O fato é que iniciamos o caminho em direção ao que será —tomara— o maior período da nossa vida, sem muita orientação. Faça as contas: a infância dura o quê? Uma dúzia de anos? A famosíssima juventude, mesmo com todas as negações e adiamentos, uns 25? A maturidade também é breve ou, para os homens, até inexistente. Já a velhice: essa vem para ficar. E está durando cada vez mais.

Faz pouco tempo que passar dos 80 ou 90, era que nem ar condicionado no carro e celular: algo disponível para muito pouca gente. Agora, salvo enganos e desenganos, ficou muito mais acessível.

Mesmo assim, na infindável era do "forever young", parecer velho parece que pega mal, é algo a ser evitado a qualquer custo (e bota custo nisso). Para muitos é melhor ficar parecendo um inimigo do Batman, do que aparentar ser um —socorro!— velhinho. Deve ser por isso que ainda não vimos uma parada celebrando o Dia do Orgulho Idoso.

São incontáveis (e lucrativas) as tentativas, métodos e procedimentos desenvolvidos na intenção de amenizar os impactos desse que é o mais traumático rito de passagem da nossa existência.

Veja bem: o nascimento é tido como o nosso "primeiro trauma", mas não temos lembrança ou consciência disso. O mesmo pode ser dito, para alguns felizardos, em relação à morte. Ingressar na puberdade nos torna ridículos e inseguros, ok. A entrada no mundo dos boletos, que define a vida dos adultos —ao menos de muitos deles— também não é moleza.

Mas nada se compara e ninguém escapa da interminável —um dia termina, porém isso não é, necessariamente, uma boa notícia— sucessão de surpresas desagradáveis que, do início ao fim da "última etapa", nosso corpo nos prega.

Já fui jovem. Há muito tempo não sou mais. Ser jovem é bom... e também não é. Tem coisas maravilhosas, estúpidas e ruins, como tudo. E como tudo, acaba. A juventude, que não tem data para acabar, fica muito parecida com o desespero.

Aos que me alertam ou acusam de ter "ficado velho", confesso: envelheci. E, até agora, não me arrependo. A velhice, para os ateus ao menos, é a única fase intransponível da vida. Que seja! Mesmo porque a "alternativa" (o único jeito comprovado de não envelhecer) é bem pior.

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