Na sua última passagem pelo Brasil, em 2010, o cantor norte-americano Chris Brown acabara de se declarar culpado no caso de agressão à sua então namorada, a também cantora Rihanna. Quinze anos se passaram —e tanto a ficha corrida como o sucesso de Brown só aumentaram.
De volta ao país, o artista lotou o Allianz Parque, em São Paulo, em dois dias com ingressos esgotados. Os shows ocorrem dois meses após o lançamento de "Chris Brown: A History of Violence", documentário que esmiúça uma dezena de histórias de violência em que Brown foi protagonista nos últimos anos.
No palco, Brown reina dominante com sua performance de canto e dança. É um songbook repleto de sucessos que lhe garante o lugar no rol dos mais ouvidos do mundo. Uma entrega e um público que não parecem se abalar com as polêmicas fora de palco.
Brown trouxe ao Brasil o show da turnê "11:11", disco lançado em 2023. O álbum não foge à sua cartilha de anos: R&B pop norte-americano que aglutina qualquer novidade sem soar inédito. De fato, desde seu terceiro disco, "Grafitti", quando começou a ocupar as páginas de tabloides, Brown abandonou o mito de se tornar o próximo Michael Jackson: nunca mais ditou tendências, mas tampouco soou desajeitado ao surfá-las.
O show deste sábado (21) começou 15 minutos antes da hora marcada e a plateia não arredou o pé sob a chuva, que diminuiu tão logo Brown subiu ao palco com a música "Angel Numbers/Ten Toes". A canção, que abre seu último disco, é um dos pontos mais interessantes junto de faixas como "Hmmm" e "Call Me Everyday", parcerias com Davido e Wizkid. Flertando com afrobeats e amapiano, Brown ainda se mostra capaz de novos hits.
O ponto alto, no entanto, vai mesmo para os sucessos radiofônicos de quase vinte anos de carreira do artista --muitos executados pela primeira vez no Brasil. A sequência "Go Girlfriend", um New Orleans bounce, "Ayo" e "Beat It", dois exemplares singles de trap de rádio, fazem do estádio um clube (no sentido norte-americano) de hip hop, com mesas privadas regadas a uísque, uma pista pequena e um DJ. Ao mesmo tempo, é pop para quem não se aprofunda tanto no hip hop.
A canção "Beautiful People" (numa versão meio funk de São Paulo), por exemplo, funciona em arenas e festas de fim de ano da firma. No palco ela ganha muito também com a performance de baile de Brown, que dança com mais precisão do que canta --sua voz é várias vezes engolida pelos arranjos feitos para mega estádios.
Abusando desse molejo, Brown usa uma tirolesa que o leva ao meio da pista comum num trajeto de quase cem metros no ar. É um espetáculo vistoso para os fãs, do premium à arquibancada. É nesse momento também que o artista faz um pot pourri estendido de seus maiores sucessos da carreira, ano a ano, caso de "Run It" e "Gimme That".
A reprodução curta das músicas, na verdade, é o tom de todo o show, que não tem espaço para improviso e rola na celeridade de vídeos do TikTok. Pudera. A obra do artista é tão prolífica que, mesmo nos intervalos de troca de roupa, é Chris Brown que o DJ toca.
O show fecha com "With You", faixa de 2007 que alavancou o Brown ao estrelato. A música, produzida pelo duo sueco e midas do pop Stargate, cai como uma luva para o encerramento do show: é apoteótica e lembra tantas outras daquela era em que misturavam EDM com R&B -- e quando Chris Brown ainda era apenas conhecido pela música.