A China anunciou que retomou as conversas com a União Europeia para reduzir barreiras comerciais e aprofundar a cooperação econômica, com foco no setor de veículos elétricos. A iniciativa surge como resposta direta ao aumento das tarifas impostas pelos Estados Unidos, liderados pelo ex-presidente Donald Trump, sobre uma série de produtos importados, incluindo os veículos chineses.
Segundo comunicado do Ministério do Comércio da China, autoridades dos dois blocos realizaram uma videoconferência nesta semana para tratar da retomada do diálogo econômico. Embora os detalhes iniciais sejam limitados, o foco está em ampliar o comércio, os investimentos e a colaboração industrial. Uma das medidas em discussão é a definição de preços mínimos para os veículos elétricos chineses exportados à Europa, como forma de evitar práticas consideradas desleais.

O movimento ocorre em um contexto de tensões comerciais agravadas pelas políticas norte-americanas. Recentemente, os EUA anunciaram novas tarifas generalizadas com a justificativa de “reciprocidade”. No entanto, analistas apontam que os cálculos usados para determinar as tarifas desconsideram importantes setores da economia, como os serviços, nos quais os Estados Unidos são líderes em exportações. Além disso, o pacote tarifário inclui até territórios desabitados, o que levanta dúvidas sobre a lógica por trás da política adotada.
Essas medidas provocaram reações imediatas em diferentes partes do mundo. A União Europeia respondeu com tarifas retaliatórias, e países como o Canadá também passaram a buscar maior cooperação com outros mercados após serem alvos das medidas norte-americanas. O impacto foi sentido em ambos os lados da fronteira, com perdas de empregos observadas logo após a entrada em vigor das tarifas.

Foto de: GAC
GAC Aion Y - fábrica
A China, por sua vez, adotou uma estratégia diferente ao buscar diálogo e estreitar laços com a Europa. Em outubro do ano passado, a União Europeia havia aplicado tarifas de até 35,3% sobre veículos elétricos chineses, alegando práticas de subsídio injustas. Em resposta, a China também impôs tarifas sobre produtos europeus, como o conhaque. Agora, com a retomada das conversas, existe a possibilidade de reversão parcial dessas medidas, desde que a China aceite manter preços compatíveis com os praticados por fabricantes europeus.
Esse novo cenário remete a situações históricas, como os acordos firmados entre Estados Unidos e Japão nos anos 1980, quando foram definidos preços mínimos e cotas de importação após o avanço das montadoras japonesas. Na época, o Japão consolidou-se como o maior exportador de veículos do mundo por décadas — posto que recentemente foi superado pela própria China.

Foto de: Zeekr
Zeekr 7X
A China já ocupa posição de destaque na indústria global de veículos elétricos. O país investiu em infraestrutura, tecnologia e produção local de componentes essenciais, como baterias de fosfato de ferro e lítio (LFP), que têm custo mais baixo e maior durabilidade. A vantagem competitiva da China se reflete na capacidade de produzir veículos acessíveis e com tecnologia própria, algo que os EUA vêm tentando alcançar com incentivos à fabricação local e políticas de estímulo à eletrificação iniciadas durante o governo Biden, mas que agora estão em xeque com o novo governo Trump.
No entanto, as recentes ações do governo norte-americano podem acabar afastando aliados e limitando as possibilidades de atuação global dos Estados Unidos, enquanto a China se fortalece no papel de liderança industrial e comercial. Ao buscar parcerias em vez de confrontos, a China amplia sua influência nos mercados estratégicos, como o europeu, deixando os Estados Unidos mais isolados em um setor considerado chave.