China pune PwC com seis meses de suspensão e multa recorde por auditoria na Evergrande

há 7 meses 26

Os órgãos reguladores chineses impuseram nesta sexta-feira (13) suspensão de atividades de seis meses e multa recorde de 441 milhões de iuans (cerca de R$ 345 milhões) à unidade da PwC na China continental por causa da auditoria realizada na incorporadora imobiliária Evergrande.

O órgão regulador do mercado financeiro na China disse que descobriu que a PwC Zhong Tian "fez vista grossa" e "até tolerou" a fraude da Evergrande ao auditar os resultados anuais da principal unidade onshore da incorporadora Hengda Real Estate e auxiliar em operações de emissão de títulos de dívida em 2019 e 2020.

A investigação da CSRC apontou que 88% dos registros de observação da PwC sobre os projetos imobiliários da Evergrande em 2019 e 2020 eram inautênticos ou falsos, tornando seus documentos de trabalho de auditoria "gravemente não confiáveis".

O órgão regulador apontou que a inspeção no local das propriedades da incorporadora feita pela PwC não detectou problemas —algumas propriedades residenciais que o auditor considerou prontas para entrega de casas ainda permaneciam como "terrenos vagos" quando a CSRC os inspecionou posteriormente.

A PwC também excluiu deliberadamente as propriedades que a Evergrande marcou como "fora dos limites" das amostras de auditoria, acrescentou.

As autoridades estão examinando o papel da PwC nas práticas contábeis da Evergrande desde que a CSRC acusou a incorporadora, em março, de uma fraude de US$ 78 bilhões (R$ 434 bi) em um período de dois anos até 2020.

"O comportamento da PwC vai além da mera falha de auditoria. Ela, até certo ponto, encobriu e tolerou a fraude financeira da Hengda Real Estate e a emissão fraudulenta de títulos corporativos", disse a CSRC (Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China) em um comunicado.

A PwC auditou a Evergrande por quase 14 anos, até o início de 2023.

A empresa disse em comunicado que admite que o trabalho de auditoria na Hengda ficou abaixo de seus próprios padrões elevados. "Estamos determinados a resolver as deficiências e fortalecer a forma como operamos daqui para frente."

A suspensão dos negócios e as multas são as mais severas já recebidas por uma das "Big Four" —grupo que reúne as quatro maiores auditorias do mundo— na China, e ocorrem em um cenário de êxodo de clientes e demissões em massa na empresa nos últimos meses.

No caso mais recente em que um auditor do grupo de gigantes foi atingido por penalidades pesadas, a filial da Deloitte em Pequim, no ano passado, foi multada em 211,9 milhões de iuans (R$ 166 mi) e as operações foram suspensas por três meses após autoridades encontrarem sérias deficiências na auditoria realizada na China Huarong Asset Management.

China, terra do meio

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"O custo é enorme em termos de reputação, afetando a capacidade de obter novos negócios na China além da multa", disse Gary Ng, economista sênior da Natixis para a região Ásia-Pacífico.

A PwC Zhong Tian será impedida de assinar certos documentos importantes para clientes na China continental, como resultados financeiros e pedidos de IPO, pelos próximos seis meses.

A suspensão dos negócios também afetará a unidade como um todo, impedindo-a de aceitar novos clientes estatais ou listados em bolsa nos próximos três anos, de acordo com as regulamentações chinesas.

No ano passado, os órgãos reguladores nacionais reiteraram que as empresas estatais e as companhias listadas na China continental devem ser "extremamente cautelosas" quanto à contratação de auditores que tenham recebido multas regulatórias ou outras penalidades nos três anos anteriores.

"Estamos desapontados com o trabalho de auditoria da PwC Zhong Tian sobre a Hengda, que ficou inaceitavelmente abaixo dos padrões que esperamos das firmas-membro da rede PwC", disse o grupo em um comunicado separado.

A companhia disse que, como parte de sua "responsabilidade e ações corretivas", o sócio sênior no território da PwC China, Daniel Li, se demitiu dois meses após assumir o cargo, dadas suas "responsabilidades anteriores" como chefe do negócio de auditoria local.

Li assinou vários documentos da Evergrande, incluindo um sobre a emissão de títulos onshore da incorporadora em 2021, de acordo com uma revisão da Reuters dos documentos disponíveis publicamente.

Hemione Hudson, líder global de risco e regulamentação da empresa, assumiu o lugar de Li, que permanecerá na empresa onshore como contador-chefe, disse o comunicado da PwC.

O MOF (Ministério das Finanças da China) também ordenou o fechamento da filial da PwC Zhong Tian em Guangzhou, que liderou o trabalho de auditoria da Hengda.

O ministério disse que tanto a PwC Zhong Tian quanto sua filial em Guangzhou estavam cientes de "erros materiais" na auditoria da incorporadora entre 2018 e 2020, mas não os apontaram e até emitiram relatórios falsos.

Um cálculo da Reuters baseado em dados da China mostrou que, nos últimos meses, mais de 50 empresas chinesas deixaram de trabalhar com a PwC ou cancelaram planos de contratá-la, após o lançamento da investigação regulatória sobre a empresa.

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