O casamento de Julie Samuels e Joe Hillyer, realizado em 21 de março de 2020, em Nova Jersey, marcou o início de um período sem precedentes na cobertura de casamentos do The New York Times. Devido à pandemia da Covid e às restrições de distanciamento social e tamanho de público, os casais tiveram que ser criativos para conseguir realizar suas cerimônias.
Samuels e Hillyer trocaram votos na varanda da frente de sua casa, enquanto um comboio de amigos e familiares buzinava ao redor do quarteirão para celebrar a união.
Um casal que se conheceu na janela do drive-thru do Dunkin', em Oklahoma —ela funcionária, ele cliente— disseram seus votos pela mesma janela, com os convidados assistindo do estacionamento. Já a modelo e ativista trabalhista Sara Ziff se casou com o fotógrafo Reed Young em uma estação de trem em Nova York. Outros casais optaram por cerimônias solitárias, com o celebrante participando via Zoom.
E os motivos para o não adiamento dos casamentos variavam: honrar uma data esperada há muito tempo, garantir um plano de saúde ou seguir o sonho de começar uma família.
Se os casamentos pareciam diferentes há cinco anos, as histórias de amor que os antecederam permaneceram as mesmas. O cancelamento de cerimônias tornou-se comum, mas o amor prevaleceu. A seguir, a história de quatro casais que se casaram durante a pandemia, apesar dos desafios, e suas reflexões sobre como o contexto atípico moldou seus relacionamentos.
Julie Samuels e Joe Hillyer
"No dia do nosso casamento, brindamos com Brian e Andy do outro lado da entrada da garagem", conta Samuels, referindo-se a Brian Juergens e Andy Swist, vizinhos que decoraram sua varanda com bolas de papel crepom brilhantes para celebrar o momento. "Depois disso, entramos e ficamos lá por dois anos."
Samuels, hoje com 58 anos, é advogada especializada em propriedade intelectual e transações comerciais em Manhattan. Hillyer, 63, é diretor de logística e assuntos postais e trabalha remotamente da casa em Connecticut, para onde o casal se mudou em 2024.
O espaço amplo da casa alugada ajudou a tornar os primeiros anos do casamento menos desafiadores, o que poderia ter sido diferente em um ambiente menor. "Nem todo casal recém-casado se beneficia de tanta proximidade", concordam.
IE | Relacionamentos
Um guia com dicas de como melhorar a comunicação, lidar com sentimentos e conflitos
"Não recomendo ficar trancada dentro de casa com seu novo marido 24 horas por dia, sete dias por semana, sob circunstâncias estressantes", diz Samuels. "Houve momentos em que ‘a familiaridade gerou desprezo’."
Ambos aprenderam a deixar que esses momentos se dissolvessem sem que os conflitos se prolongassem. Durante o dia, se isolavam em escritórios separados e se comunicavam apenas para planejar o jantar.
Hillyer, cujo amor pela culinária ajudou a conquistar Samuels quando começaram a namorar, em 2007, aprimorou ainda mais suas habilidades gastronômicas durante o confinamento. À noite, "nos apoiávamos e cuidávamos um do outro", diz ele.
Eles hesitam em dizer que ficaram felizes por terem iniciado a vida a dois em meio a uma crise mundial. Mas Samuels reflete: "O fato de termos passado por tudo isso e, no final, ainda querermos estar casados é uma prova da força do nosso relacionamento".
Agora, com a pandemia superada, ela destaca: "Nós dois nos tornamos muito bons em demonstrar apreço pelo que o outro faz —e sempre que um de nós enfrenta algo difícil, o outro está 1.000% ao seu lado".
Kirsten Wazalis e Glenn Leader
Kirsten Wazalis e Glenn Leader se casaram em abril de 2020, usando máscaras faciais com as inscrições "Sr." e "Sra.", do lado de fora de sua casa na Filadélfia, enquanto amigos, vestindo camisas do Philadelphia Flyers, assistiam de dentro dos carros estacionados.
Quando a pandemia começou, o casal achava que já conhecia tudo sobre o outro. Em oito anos juntos, enfrentaram diversas crises médicas decorrentes da síndrome de Cowden, uma rara doença genética que faz com que Wazalis desenvolva tumores por todo o corpo. A decisão de casar em 2020 foi, em parte, motivada pelo desejo de Leader, hoje com 51 anos, de garantir que a esposa, de 54, tivesse acesso ao seu seguro de saúde. Ela já havia enfrentado câncer de endométrio, mama e tireoide, e um erro administrativo a fez perder os benefícios do Medicare.
Os desafios de saúde não diminuíram após o casamento, realizado diante de um placar improvisado que dizia: "Covid-19: 0, Leader: 1". O câncer de tireoide de Wazalis voltou, um tumor surgiu em sua vesícula biliar e ela passou a consultar um cardiologista devido a problemas cardíacos. Mas a pandemia transformou a rotina do casal.
"Nós ficamos mais tranquilos", diz Wazalis, que não pode trabalhar devido às suas condições médicas. Leader é paisagista do Departamento de Agricultura na Pensilvânia. "Em vez de ir para o happy hour, aprendemos tudo o que há para saber sobre família."
Quando se casaram, Wazalis já tinha três netos. Hoje, são cinco, com idades entre 2 e 11 anos. Os netos, que frequentemente dormem na casa do casal, os chamam de "Honey" e "Pop Pop". A rotina inclui ser jurados de uma competição semanal de escorregador na sala de estar.
Para Wazalis, a prova definitiva do amor de Leader está nos pequenos gestos. "Eu sei que ele me ama mais agora do que no dia do nosso casamento", diz. "Porque, quando estou de cama e não consigo ir à loja, ele sempre traz meu sorvete de cereja favorito."
Helen Kim e Peter Moon
Helen Kim e Peter Moon se casaram em 12 de setembro de 2020, no quintal da família Moon, em Illinois. Mas, naquele momento, a principal preocupação do casal não era a saúde, e sim manter a cafeteria de Kim, em Chicago, funcionando enquanto ajudavam outros pequenos negócios a sobreviver à pandemia.
"A coisa certa a se fazer na Covid era pedir muita comida para viagem e apoiar negócios locais", diz Moon. "Isso significava comer muita comida que não era boa para nós."
Kim e Moon, ambos com 33 anos, venderam a Coffee Lab & Roasters, onde ele assumia funções de barista quando os tempos ficaram difíceis. A venda do negócio, em 2023, trouxe alívio. "Trabalhávamos sete dias por semana e estávamos sempre estressados", conta Kim, que hoje trabalha como gerente de produção de chá na Spirit Tea. Moon é garçonete no restaurante de sushi Jinsei Motto, em Chicago.
O casal organizou uma segunda celebração, em dezembro de 2021, para 140 convidados, no Greenhouse Loft, em Chicago. No primeiro casamento, apenas 20 convidados mascarados compareceram, enquanto outros foram representados por fotos de rosto em tamanho real.
Dessa vez, puderam dançar até o amanhecer. "Parecia que finalmente fechamos o capítulo do nosso casamento", diz Moon.
O pai de Kim, Moody Kim, já havia aceitado completamente Moon. Quando o casal começou a namorar, em 2019, a paixão de Moon por música metalcore e seu uso de palavrões nas redes sociais deixaram Moody Kim apreensivo.
"Mas meu pai realmente gosta do Peter agora", disse Helen Kim. "Às vezes, ele olha para mim e diz: 'Você se casou bem.' Tudo melhorou com o tempo."
Sasha Jackson e Stephen Small-Warner II
"Olhando para trás, a pandemia levou embora o que não importava", disse Stephen Small-Warner II, que se casou com Sasha Jackson em 7 de fevereiro de 2021, no sobrado da família em Bedford-Stuyvesant, um bairro do Brooklyn. "Eu consegui focar o que queria manter nas ondas."
O casal, que se conheceu em 2008 como estudantes de graduação na Universidade Howard e se apaixonou enquanto colaborava em um projeto de filme, agora tem duas filhas: Sailah, de 2 anos, e Siya, de 6 meses.
Quando se casaram, estavam morando em Los Angeles e trabalhando como cineastas independentes.
Em 2023, Jackson e Small-Warner II, ambos agora com 37 anos, voltaram para Bed-Stuy para criar suas filhas perto da família. (Jackson cresceu nas proximidades, em Crown Heights.)
Eles ainda são cineastas independentes, com seus próprios projetos. Mas agora, entre escrever longas entradas em um diário compartilhado e decidir de quem é a vez de dar banho nas meninas, estão trabalhando juntos em um longa-metragem sobre sua história de amor.
Os dez membros da família que fizeram testes de Covid antes de se reunirem no sobrado estão apoiando-os em sua jornada cinematográfica.
A pandemia trouxe perspectiva.
"Ela mudou dramaticamente nossa vida", disse Jackson. "Tudo, desde a desaceleração da indústria cinematográfica até descobrirmos como navegar pelo mundo juntos nesse novo ritmo."
Como outros casais que se mantiveram unidos quando o mundo ficou quieto em 2020, eles emergiram de uma névoa de incerteza pandêmica sentindo-se gratos.
"Foi um tempo assustador e trágico", disse Jackson. Mas agora, "podemos ver mais claramente a base que construímos para nossa família", disse Small-Warner II.
"Estamos mais fortes do que nunca."