O economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, disse nesta quarta-feira (7) que a credibilidade fiscal do país torna os processos mais fáceis no campo econômico. Para ele, a gestão atual ainda precisa consolidar essa credibilidade no acerto das contas públicas.
"A credibilidade do plano fiscal é muito, muito importante, porque ajuda a reduzir a taxa de juros de longo prazo", disse durante evento da agência de classificação de risco Moody's, em São Paulo.
O economista do BTG disse enxergar um compromisso do governo com o cumprimento das metas para o resultado primário, mas afirmou que a questão fiscal está em dúvida atualmente.
"Hoje em dia os mercados continuam a levantar a questão se o governo fará ou não tudo o que for necessário para cumprir as regras [fiscais], ou se o governo irá ou não alterar as regras no próximo ano, por exemplo. E é por isso que a taxa de juros real de longo prazo no Brasil hoje está em torno de 6%. É muito, muito alta", afirmou.
Para Almeida, essas questões se somam e estão conectados a outras, como o patamar da taxa básica de juros, a expectativa de pressão inflacionária, além de incertezas quanto à próxima gestão do Banco Central a partir de janeiro de 2025, quando ocorre a troca de presidente da autarquia.
A equipe econômica do governo Lula vem defendendo antecipar a indicação para reduzir o custo dessa transição.
O economista disse que não tem preocupação quanto à sucessão por acreditar que a instituição tem credibilidade e um bom corpo técnico, o que se somaria ao fato de o BC ter garantido sua autonomia.
"O nome de quem vai substituir Roberto Campos [Neto, atual presidente do BC] importa, mas minha convicção é que é uma instituição que dá credibilidade, e eles vão entregar o que precisa ser entregue", disse.
Almeida lembrou que o Brasil aprovou importantes reformas nos últimos anos, inclusive a própria autonomia do Banco Central, mas voltou a dizer que a ainda falta a consolidação da credibilidade da política fiscal.
'PASSAGEIROS DO CICLO GLOBAL'
Também presente na discussão, o chefe de Economia no Brasil e Estratégias para América Latina do BofA (Bank of America), David Beker, disse que os problemas domésticos são importantes, mas indicou que o que mais o preocupa agora são as questões globais, principalmente nos Estados Unidos.
"Há alguns meses falávamos de uma economia que não desacelera, e agora falamos de risco de recessão [nos EUA]. O quadro global vai ser muito importante. Claro, o que fazemos no Brasil importa, mas acho que, neste momento, dada a incerteza do lado global, nos tornamos passageiros", disse.
"Somos passageiros do ciclo global e precisamos torcer para não cometermos um erro político para não sermos jogados para fora do avião."
Folha Mercado
Receba no seu email o que de mais importante acontece na economia; aberta para não assinantes.
Na avaliação do economista, o quadro econômico no mundo está se complicando, com muito barulho nos mercado nos últimos dias.
Na sexta-feira (2), os dados mais frios do mercado de trabalho americano causaram pânico nas bolsas no mundo, com operadores e analistas temendo uma recessão global.
Tanto Mansueto Almeida quando David Beker disseram que as expectativas de juros altos por mais tempo devem se traduzir em um arrefecimento no crescimento econômico brasileiro a partir do segundo semestre.
Citando o Banco Central do Brasil, Beker disse que a fase mais positiva do processo de desinflação já aconteceu, e agora a situação é mais difícil devido aos dados tanto de atividade econômica quanto no mercado de trabalho, o que tem levado a um endurecimento da política monetária.
Para este ano, o Bank of America espera um PIB (Produto Interno Bruto) de cerca de 2%, enquanto o BTG Pactual projeta 2,4% de crescimento.
Ambos indicaram, contudo, que o quadro que se desenha para próximo ano é mais incerto.