A comunidade astronômica está ansiosa pela iminente entrada em operação do Observatório Vera C. Rubin, projeto destinado a fazer uma grande varredura de todo o céu do hemisfério Sul com um telescópio de 8,4 metros, mesmo porte dos maiores equipamentos de solo. E o Brasil acaba de assegurar uma participação relevante na iniciativa liderada pelos EUA.
Um acordo de cooperação científica recém-assinado pelo brasileiro LIneA (Laboratório Interinstitucional de e-Astronomia) com o Laboratório Nacional do Acelerador SLAC, ligado à Universidade Stanford e representante do Departamento de Energia dos EUA no projeto permitirá a participação de 120 brasileiros no projeto, envolvendo 26 instituições de ensino de 12 estados.
O acerto, que vai até 2038, prevê um investimento de R$ 6 milhões anuais, com financiamento até agora realizado pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e pelo MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação). Ao LIneA caberá gerir um dos grandes centros de dados para armazenamento e processamento das informações geradas pelo projeto –essa rede da qual o Brasil fará parte é um dos alicerces fundamentais da iniciativa.
O projeto a ser tocado pelo Rubin (batizado em homenagem à astrônoma ligada à descoberta da existência da matéria escura), chamado LSST (Pesquisa de Legado do Espaço e do Tempo, na sigla inglesa), deve ter impacto gigantesco em praticamente todas as áreas da astronomia.
Uma coisa é fazer como telescópios atualmente em operação, caso da dupla do Gemini ou do quarteto do VLT (Telescópio Muito Grande, na sigla inglesa), em que o apontamento preciso leva à observação de objetos específicos. Outra é fazer uma varredura de céu inteiro, a partir de imagens de campo amplo, com essa mesma precisão –o que vai gerar muitos dados que precisarão ser armazenados, processados e disponibilizados à comunidade acadêmica, a fim de serem usados pelos astrônomos por décadas a fio para fazer um sem-número de descobertas.
O equipamento está instalado no Cerro Pachón, no Chile, e foi construído a um custo de US$ 1 bilhão, financiado principalmente pela Fundação Nacional de Ciência (NSF) e pelo Departamento de Energia (DoE) dos EUA.
Além do telescópio inovador com espelho principal de 8,4 metros, o sistema conta com a maior câmera digital do mundo, com resolução de 3,2 bilhões de pixels. Espera-se gerar um catálogo de cerca de 37 bilhões de objetos (que vão desde membros do Sistema Solar a aglomerados galácticos, passando por estrelas e galáxias) ao longo de uma década de operação. Cada pedacinho do céu será fotografado mil vezes ao longo dos próximos dez anos.
Os testes com a câmera de ultradefinição já começam na semana que vem, e a expectativa é que a "primeira luz" do telescópio (observações iniciais, ainda focadas na calibragem dos equipamentos) venha em setembro. Considerando que o projeto foi proposto originalmente em 2001, falta muito pouco agora para que o Rubin comece sua revolução astronômica –e muito bom saber que o Brasil fará parte dela.
Esta coluna é publicada às segundas-feiras na versão impressa, na Folha Corrida.
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