O primeiro relatório de perspectivas econômicas da OCDE de 2025 traz a imagem de um mar revolto. Isso está apenas sugerido, mas a ressaca tem nome e sobrenome: a guerra comercial promovida por Donald Trump. Em termos globais, a disputa pode rebaixar para 3,1% o crescimento mundial neste ano, contra 3,3% do prognóstico anterior; e para 3% o esperado para 2026, ante 3,3% projetados anteriormente.
Para o Brasil, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico prevê um crescimento de 2,1% neste ano, abaixo do 2,3% projetados pelo Ministério da Fazenda. O prognóstico para o ano eleitoral de 2026 seria ainda mais baixo, 1,4%, com "o impacto do aperto da política monetária e das tarifas mais altas sobre as exportações de aço e alumínio para os EUA".
A instituição alerta ainda para o risco de mais inflação e juros no planeta. O Brasil e o Japão são as exceções do estudo neste caso, com os Bancos Centrais já em forte atuação.
"O alto nível de incerteza geopolítica e política no momento traz consigo riscos substanciais para as projeções", diz o documento, publicado nesta segunda-feira (17) em Paris. "A produção global poderia cair cerca de 0,3% até o terceiro ano e a inflação global poderia aumentar 0,4 pontos percentuais anuais, em média, nos primeiros três anos", descreve o relatório, que limita a perspetiva econômica para a maioria dois países do G20.
Esse seria o cenário com os anunciados aumentos de tarifas para importações americanas e retaliações equivalentes, sem contar commodities. O prognóstico piora "se a incerteza política aumentasse ainda mais ou se houvesse uma reavaliação generalizada dos riscos nos mercados financeiros".
A fragmentação adicional da economia global "é uma preocupação fundamental". Mais barreiras comerciais "afetariam o crescimento em todo o mundo e aumentariam a inflação", avalia a OCDE. No caso do Brasil, uma taxa de 5,4% em 2025 e 5,3% em 2026. No incômodo ranking, o país só perde para os prognósticos de Turquia, Argentina e Rússia e está à frente de Índia e México.
Prioridade da ofensiva comercial de Trump, que mistura tarifas com o populismo de fronteira e a crise do fentanil, o México seria empurrado para uma recessão neste ano: quedas de 1,3% no PIB em 2025 e 0,6% em 2026, o único prognóstico negativo do estudo. Igualmente pessimista, a perspectiva para o Canadá, o vizinho do norte também vítima da custosa verborragia trumpista, perderia quase metade do crescimento projetado para os próximos dois anos, chegando a apenas 0,7%.
O tombo da economia americana também é projetado. Após um crescimento de 2,8% em 2024, os EUA ficariam limitados a 2,2% em 2025 e 1,6% em 2026.
"Os governos precisam encontrar juntos maneiras de lidar com suas preocupações dentro do sistema de comércio global para evitar um aumento significativo das barreiras comerciais retaliatórias entre os países", escreveu a OCDE. "Um novo aumento generalizado das restrições comerciais teria impactos negativos significativos sobre os padrões de vida."
A chance de uma "inflação mais rígida do que o previsto, levaria a uma política monetária mais restritiva". O aumento de tarifas pode provocar efeitos mais persistentes sobre a inflação de bens. "Os mercados de trabalho atualmente apertados em muitas economias também podem alimentar demandas salariais."
Ainda que seja global, o diagnóstico se encaixa na situação brasileira, que traz o país com salários reais no maior patamar em relação ao verificado no período pré-pandemia. Apenas EUA, Espanha, Reino Unido e Canadá também estão nesta situação entre as nações do G20.
Além de um Banco Central vigilante, instrução que no Brasil já está em curso pela desancoragem da expectativa inflacionária, a OCDE recomenda "ações fiscais decisivas para garantir a sustentabilidade da dívida, preservar o espaço para os governos reagirem a choques futuros e gerar recursos para atender a grandes pressões de gastos".
A entidade recomenda também reformar regulatórias, "que incentivem a dinâmica competitiva do mercado", como a eliminação de encargos regulatórios e investimento em educação, visando a disseminação de novas tecnologias e aumento da participação da força de trabalho