Brasil é ignorado no 'Nobel' da literatura infantil pela primeira vez em 40 anos

há 2 dias 3

Pela primeira vez desde 1984, o Brasil não tem um escritor ou um ilustrador indicado ao prêmio Hans Christian Andersen, considerado o Nobel da literatura infantojuvenil. A ausência quebra uma sequência de 41 anos, período em que o país sempre teve pelo menos um autor finalista ou vencedor, colocando a produção brasileira entre as mais significativas do mundo.

Organizado pelo IBBY, sigla em inglês para a Organização Internacional dos Livros para Jovens, o prêmio é concedido a cada dois anos para um escritor e um ilustrador. Os indicados desta edição foram divulgados nesta segunda-feira, dia 31, na Feira do Livro Infantil de Bolonha, no norte da Itália. Os vencedores serão conhecidos no ano que vem, durante o mesmo evento.

Entre os concorrentes da atual edição estão nomes como a chilena María José Ferrada, a colombiana Irene Vasco, a chinesa Cai Gao, a espanhola Elena Odriozola, a palestina Sonia Nimr, entre outros. No total, foram selecionados 78 autores de 44 países, sendo 41 escritores e 37 ilustradores. Dessa lista sairão os cinco finalistas, que deverão ser conhecidos ainda neste ano. A lista completa pode ser vista aqui.

Já na edição do ano passado, o Brasil teve dois finalistas no Hans Christian Andersen. Na categoria para escritores, Marina Colasanti chegou à lista final de cinco nomes. A escritora, uma das mais premiadas do país e sempre cotada para receber a distinção, morreu em janeiro deste ano sem jamais ter levado o troféu. Colasanti foi autora de cerca de 70 títulos e de obras que marcaram a literatura infantojuvenil brasileira, como "Uma Ideia Toda Azul", "Ana Z., Aonde Vai Você?" e "Breve História de um Pequeno Amor", por exemplo.

Já na categoria para ilustradores, Nelson Cruz também ficou entre os cinco finalistas no ano passado. O mineiro vem construindo há décadas uma trajetória de destaque dentro do livro ilustrado e já criou narrativas visuais para textos de nomes como Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis e Bertolt Brecht, por exemplo. Em 2021, recebeu o Jabuti de melhor livro do ano por "Sagatrissuinorana", livro que tem texto de João Luiz Guimarães.

Os premiados de 2024 foram o escritor austríaco Heinz Janisch e o ilustrador canadense Sydney Smith.

Apesar de ignorado desta vez, o Brasil já venceu o prêmio três vezes. Lygia Bojunga foi a primeira a ganhar, em 1982, seguida por Ana Maria Machado, em 2000, ambas na categoria para escritores. Em 2014, foi a vez de Roger Mello, que se tornou o primeiro ilustrador latino-americano a ser laureado —e único até o momento. Entre os indicados, já figuram em edições passadas nomes como Ziraldo, Ruth Rocha, Ciça Fittipaldi, Bartolomeu Campos de Queirós, Angela Lago, Orígenes Lessa e diversos outros.

O Hans Christian Andersen foi criado em 1956 e premia escritores e ilustradores pelo conjunto da obra. Ao lado do prêmio sueco Alma, sigla do Astrid Lindgren Memorial Award, é considerado o mais importante da literatura infantojuvenil. Já foram premiados autores como o italiano Gianni Rodari, o americano Maurice Sendak, a sueca Astrid Lindgren, a argentina Maria Teresa Andruetto, a sul-coreana Suzy Lee, entre outros.

Aliás, nesta terça, dia 1º, o Alma também divulga o ganhador da edição deste ano —ao contrário do Andersen, o concurso sueco é anual e conta com dois finalistas brasileiros neste ano: Roger Mello e Daniel Munduruku. Lygia Bojunga até agora é a única brasileira contemplada, tendo recebido a distinção em 2004.

O anúncio do Alma também será feito na Feira de Bolonha, que segue até quinta-feira, dia 3. O evento, por sinal, tem mais outra atração ligada ao Andersen. Sydney Smith, ilustrador premiado no ano passado, é tema de uma exposição individual que faz parte da programação, com originais de alguns de seus livros.

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