Imagine um pote cheio de bolinhas azuis e vermelhas. A cor dessas bolinhas simboliza o retorno de um investimento: azul para positivo e vermelho para negativo. Mas além da cor, a quantidade de bolinhas indica a intensidade desse retorno. Agora, pense no que acontece quando você vê uma série de bolinhas azuis sendo retiradas. Automaticamente, tendemos a superestimar tanto a proporção quanto o número de bolinhas azuis restantes no pote. Quando perguntados sobre a próxima bolinha, muitos apostariam que será azul e acreditariam que várias outras seguirão o mesmo padrão. Esse comportamento é típico no mundo dos investimentos.
Após uma sequência de retornos positivos, ou seja, de bolinhas azuis, há uma tendência natural de acreditar que o cenário continuará favorável e que os ganhos se manterão no mesmo ritmo. No entanto, o que esquecemos é que, logo após retirarmos uma série de bolinhas azuis, o pote pode estar repleto de bolinhas vermelhas, simbolizando uma virada inesperada no mercado, muitas vezes logo após o momento em que decidimos investir.
Na renda fixa, prever a quantidade e proporção de bolinhas azuis e vermelhas no pote é mais simples. O retorno já está definido no momento da aplicação, como se soubéssemos exatamente quantas bolinhas azuis e vermelhas restam. Se ficarmos até o vencimento, ou seja, até todas as bolinhas serem retiradas, garantimos a rentabilidade contratada. Isso traz mais previsibilidade e segurança, uma vez que sabemos, com bastante precisão, quantas bolinhas azuis veremos ao longo do tempo. Mesmo sabendo disso, muitos não suportam ver alguma bolinhas vermelhas saindo em títulos de renda fixa referenciados ao IPCA e já querem sair.
Ao falarmos de renda variável, como as ações, o desafio é muito maior. O pote se torna imprevisível, e a quantidade de bolinhas vermelhas pode ser significativamente maior do que imaginamos. Aqui, não temos controle sobre quantas bolinhas de cada cor estão no pote e muito menos quando elas aparecerão. É por isso que o risco em renda variável é mais elevado: o número de bolinhas vermelhas pode aumentar repentinamente, causando perdas, mesmo que no passado tenhamos retirado apenas bolinhas azuis.
O grande desafio ao investir é justamente tentar estimar o número e a proporção de bolinhas de cada cor no pote. Em outras palavras, é fazer uma análise detalhada dos ativos e do cenário econômico para entender melhor os riscos envolvidos. Quanto mais acurada for essa análise, maior a chance de acertar na sua decisão de investimento. Contudo, mesmo com as melhores estimativas, o fator sorte sempre estará presente. Afinal, o mercado é imprevisível, e ninguém pode garantir que retirará apenas bolinhas azuis no futuro.
Portanto, ao investir, é fundamental não se deixar levar apenas pela sequência de bolinhas azuis ou vermelhas que saíram do pote. O mercado é cíclico, e a qualquer momento a quantidade e a cor das bolinhas pode mudar. A melhor estratégia é estar sempre preparado, fazendo análises cuidadosas e lembrando que, por mais que as bolinhas azuis tenham sido abundantes no passado, o futuro pode ser bem diferente.
Michael Viriato é assessor de investimentos e sócio fundador da Casa do Investidor.
Fale direto comigo no e-mail.
Siga e curta o De Grão em Grão nas redes sociais. Acompanhe as lições de investimentos no Instagram.