Boeing mudará projeto e produção de tampa de porta de avião que se soltou em voo

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Funcionários da Boeing informaram, nesta terça-feira (6), às agências reguladoras que a fabricante de aeronaves mudará o projeto e a produção da tampa de porta de avião semelhante à que se desprendeu em pleno voo de um modelo 737 Max 9 em janeiro deste ano.

O incidente ocorreu em uma aeronave operada pela Alaska Airlines, mas não houve feridos. Após o ocorrido, a Boeing passou a ser investigada pela FAA (Administração Federal de Aviação dos EUA) e informou aos reguladoras que estava redesenhando a peça que substitui a porta de saída de emergência em certas configurações de aviões, o que permite a colocação de mais assentos.

De acordo com a companhia, a alteração visa permitir que seus sistemas de alerta possam detectar quaisquer falhas.

"As mudanças no design devem ser implementadas neste ano", disse Elizabeth Lund, vice-presidente sênior de qualidade da Boeing, que testemunhou na terça-feira em uma audiência investigativa realizada pelo Conselho Nacional de Segurança nos Transportes, uma agência governamental independente de investigação.

A audiência de terça-feira revelou que funcionários da Boeing retiraram um tampão de porta, durante a montagem do que mais tarde seria o avião da Alaska Airlines, para reparar rebites danificados, mas sem qualquer autorização interna necessária ou documentação detalhando a remoção do painel —um elemento estrutural crítico.

O órgão norte-americano de fiscalização NTSB (National Transportation Safety Board) e a Boeing disseram que ainda não determinaram quem removeu e reinstalou o componente da porta do avião durante a produção.

A investigação do conselho de segurança descobriu no início deste ano que a aeronave modelo 737 Max 9 saiu da fábrica da Boeing, em Renton (EUA), sem os parafusos que deveriam ter mantido no lugar o tampão de porta que se soltou no ar.

A presidente do NTSB, Jennifer Homendy, sugeriu na audiência que a cultura de trabalho na Boeing priorizava o cumprimento dos cronogramas de produção em detrimento dos padrões de segurança, levando a uma equipe sobrecarregada e falhas no processo de produção.

Na terça-feira, Homendy leu trechos das entrevistas feitos pelo conselho com mecânicos que trabalham na instalação da Boeing há anos. Os trabalhadores testemunharam aos investigadores do conselho que eram regularmente pressionados a trabalhar de 10 a 12 horas por dia, entre seis a sete dias por semana, afirmou Homendy.

Na fábrica da Boeing em Renton, os contratados da Spirit AeroSystems, um fornecedor da Boeing que produz as fuselagens do 737 Max, apontaram uma constante tensão entre os trabalhadores da Spirit e os mecânicos da Boeing.

Um dos contratados da Spirit afirmou que eles se sentem "as baratas da fábrica" durante essas entrevistas aos investigadores do conselho em março. No mês passado, a Boeing anunciou um acordo para comprar a Spirit AeroSystems por US$ 4,7 bilhões.

O NTSB voltará sua atenção na quarta-feira para a supervisão da Boeing pela FAA, disse Homendy. O administrador da FAA, Mike Whitaker, afirmou em junho que a agência estava "muito distante" da supervisão da Boeing antes do acidente.

Lund disse que dois funcionários da Boeing que provavelmente estavam envolvidos no incidente do Max 9 da Alaska foram colocados em licença administrativa remunerada.

A vice-presidente de qualidade da Boeing reconheceu os problemas apontados, mas disse que a empresa estava "trabalhando duro" para mudar a cultura de trabalho e os protocolos de segurança que ajudariam os funcionários e contratados a não se sentirem pressionados a sacrificar a qualidade devido às pressões sobre o desempenho. "É preocupante... Não há dúvida sobre isso ", afirmou Lund.

A diretoria também divulgou 3.800 páginas de relatórios factuais e entrevistas da investigação em andamento.

A audiência investigativa de dois dias do conselho começou na terça-feira, focando em como o tampão da porta do avião se soltou a uma altitude de cerca de 16.000 pés (4.876 metros), expondo os passageiros a ventos fortes.

A audiência dá continuidade às críticas recentes da agência independente que resultaram no impedimento da Boeing de ter acesso a informações da investigação.

A situação foi deflagrada em junho, quando Lund falou a repórteres sobre a investigação do incidente ocorrido em janeiro e as melhorias que a empresa estava fazendo.

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Quando o conselho de segurança soube dos comentários de Lund, no entanto, rapidamente repreendeu a Boeing. A agência disse que a empresa havia divulgado indevidamente informações investigativas e especulado sobre a causa do episódio, dizendo que a Boeing havia "violado de forma flagrante" as regras para investigações ativas.

O conselho informou ao Departamento de Justiça, que também estava investigando possíveis violações de regras pela Boeing no voo de janeiro.

A Boeing disse que não existe nenhuma documentação para sobre a remoção dos quatro parafusos que estavam faltando. Lund disse que a Boeing agora colocou uma placa azul e amarela brilhante no componente quando ela chega à fábrica, que diz em letras grandes: "Não abra" e acrescentou requisitos específicos caso ele precise ser aberto e procedimentos para garantir que ele não seja aberto inadvertidamente.

Em uma entrevista com o NTSB, um comissário de bordo descreveu um momento de terror quando a porta desativada se desprendeu. "E então, de repente, houve um estrondo muito alto e muito ar, como se a porta tivesse se aberto", disse o comissário de bordo que não teve seu nome revelado. "As máscaras caíram e vi a cortina da cozinha ser sugada em direção à cabine."

O incidente ocorrido com a aeronave levantou novas preocupações sobre a qualidade dos aviões da Boeing, mais de cinco anos após dois acidentes fatais com aviões 737 Max envolvendo seus sistemas automatizados de manobra que mataram mais de 300 pessoas.

Após o episódio de janeiro, a FAA proibiu a Boeing de aumentar a produção do 737 até que resolvesse os problemas de qualidade. Mike Whitaker, o administrador da FAA, reconheceu durante uma audiência no Congresso que sua agência havia sido "muito permissiva" na supervisão da Boeing antes que o painel da Alaska Airlines se soltasse.

Uma questão chave durante a audiência de terça-feira foi a falta de documentação sobre a remoção e reinstalação do tampão de porta. A Boeing disse que não há documentos disponíveis para verificar a remoção dos parafusos. Embora haja documentação mostrando que o painel foi removido para reparar rebites no avião, não há registro de se o mesmo painel foi reinstalado após a conclusão do trabalho.

Carole Murray, executiva da Boeing, descreveu vários problemas com fuselagens provenientes da Spirit AeroSystems no período que antecedeu o acidente. "Nós tínhamos defeitos. O selante foi um de nossos maiores defeitos, sobre o qual tivemos registros", disse ela. "Tivemos vários escapes ao redor da moldura da janela."

O Departamento de Justiça ainda está investigando a empresa sobre o episódio. À medida que as investigações federais sobre os tampões de porta continuam, a Boeing chegou a um acordo judicial com o departamento após violar uma acusação suspensa relacionada aos acidentes do Boeing Max em 2018 e 2019.

Em 2021, a Boeing e o Departamento de Justiça chegaram a um acordo sobre os dois acidentes que ajudou a empresa a evitar acusações criminais. Mas este ano, os promotores federais disseram que a Boeing não havia cumprido esse acordo, então eles elaboraram um novo que foi acertado provisoriamente.

Sob o plano mais recente, a Boeing se declararia culpada de conspirar para fraudar o governo federal. A empresa também traria um monitor independente, ficaria em liberdade condicional por três anos e enfrentaria penalidades financeiras adicionais, incluindo uma multa de US$ 487,2 milhões, embora metade desse valor possa ser perdoada devido a multas que a empresa já pagou. O acordo ainda aguarda a aprovação de um juiz federal ainda este mês.

Com informações do The New York Times e da Reuters

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