O novo CEO da Boeing, Kelly Ortberg, afirmou que a empresa está em uma "encruzilhada" e deve reformular sua cultura para encerrar uma crise de vários anos que abalou a confiança de clientes e investidores.
Ortberg disse a funcionários e investidores que a fabricante de aviões estava com "falhas graves de desempenho" que levaram a uma queda da credibilidade e aumento da dívida e da decepção dos clientes.
Ele afirmou que busca estabilizar o negócio, melhorar seus processos de produção de aeronaves e chamou a atenção para a relação com as subsidiárias. "(Os executivos devem estar) estreitamente integrados com nosso negócio e com as pessoas que estão fazendo o design e a produção de nossos produtos", apontou.
As falhas em uma subsidiária levaram a Boeing a ser questionada quando uma peça da tampa da porta de um Boeing 737 Max 9 se soltou durante um voo em 5 de janeiro. Na ocasião, a peça foi instalada pela Spirit AeroSystems, então subsidiária da Boeing. Posteriormente, a empresa foi comprada pela fabricante de aeronaves.
A avaliação de Ortberg ocorreu antes da divulgação de resultados do terceiro trimestre da Boeing e algumas horas antes de 33 mil maquinistas da empresa em Washington votarem se aceitariam um acordo proposto pela empresa para encerrar a greve que dura quase seis semanas.
A proposta de aumentar os salários em 35% ao longo de quatro anos melhora a oferta original da empresa de 25%. Inclui um bônus de desempenho e melhores benefícios de aposentadoria, mas não restabelece a pensão de benefício definido que muitos trabalhadores continuam irritados por terem perdido após uma amarga disputa em 2014.
Ortberg disse estar "muito esperançoso" de que o acordo encerrará a greve.
Em contraste com seu antecessor Dave Calhoun, Ortberg mudou-se para o centro de manufatura da Boeing em Washington vindo da Flórida após ingressar na empresa. "Precisamos estar nos pisos das fábricas, nas oficinas e em nossos laboratórios de engenharia", disse ele. "Precisamos saber o que está acontecendo."
Para o novo CEO, a empresa também precisa desenvolver um novo avião "no momento certo no futuro, mas temos muito trabalho a fazer antes disso". Ortberg disse que ajustar as contas da empresa é um das prioridades. "(Precisamos) restaurar o balanço patrimonial para que tenhamos um caminho para a próxima aeronave comercial."
A empresa informou na quarta-feira que usou US$ 2 bilhões (R$ 11,45 bilhões) em caixa livre durante o terceiro trimestre, em comparação com US$ 310 milhões (R$ 1,78 bilhão) no mesmo período de 2023. Também disse que estava "gerenciando ativamente a liquidez" enquanto tenta preservar sua classificação de crédito de grau de investimento.
A empresa informou no início deste mês que assumiria um encargo de US$ 5 bilhões (R$ 28,62 bilhões) durante o terceiro trimestre, enquanto relatava perdas de US$ 9,97 por ação —quase quatro vezes maiores que no terceiro trimestre de 2023— sobre US$ 17,8 bilhões (R$ 101,89 bilhões) em receita.
Cerca de US$ 2,6 bilhões (R$ 14,88 bilhões) em encargos resultaram do adiamento das entregas do 777 X por mais um ano até 2026 —seis anos após as companhias aéreas terem sido originalmente prometidas suas aeronaves.
Outros US$ 2 bilhões vieram de perdas em contratos de defesa de preço fixo, e cerca de US$ 400 milhões derivaram da paralisação do trabalho e da decisão da empresa de parar de fabricar o 767 em 2027, embora continue a fabricar a versão militar do cargueiro, o KC-46A reabastecedor.
A Boeing já informou que demitirá cerca de 17 mil trabalhadores e que poderá vender até US$ 25 bilhões em ações ao longo de três anos, mas se recusou a comentar mais sobre o tamanho ou o momento da captação de capital.
Folha Mercado
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