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A escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie acha importante falar sobre identidade. Ela entende que ser uma mulher negra, africana, da etnia igbo moldou o destino dela em certa medida. Da mesma forma, ser branco, preto, mulher ou homem influencia o modo como se é reconhecido no mundo.
Mas, ao mesmo tempo, afirma ela à repórter Clara Balbi, o "foco excessivo na identidade pode nos fazer esquecer que, no fim das contas, existe quem somos e também o que somos". "Quando pensamos apenas em termos de identidade, acabamos esperando que as pessoas se encaixem em determinados papéis. E, às vezes, eu não acredito no que os outros acham que uma mulher negra deveria acreditar."
As personagens do novo livro de Chimamanda, "A Contagem dos Sonhos" (trad. Julia Romeu, Companhia das Letras, R$ 89,90, 424 págs.) —o primeiro de ficção que ela lança em mais de uma década—, são negras e africanas como ela. Isso aproxima suas vivências, mas não as determina.
Elas são a sonhadora Chiamaka, que lamenta seus namoros fracassados; a pragmática Zikora, que questiona relacionamentos após ser abandonada por quem acreditava ser seu grande amor; a maternal Kadiatou, acusada injustamente por desconhecidos; e a rebelde Omelogor.
As protagonistas compartilham a resiliência típica das mulheres escritas pela nigeriana, que dificilmente abrem mão de suas ambições.
Uma natureza que parece cada vez mais deixada de lado quando se trata da literatura contemporânea, comenta a autora. "Passamos a achar que ser cínico significa ser sofisticado, moderno. E eu rejeito isso profundamente. Como seres humanos, estamos sempre ansiando por algo."
Acabou de Chegar
"Bestiário" (trad. José Eduardo Degrazia, L&PM, R$ 72,90, 136 págs.) é uma coletânea de descrições e representações de animais reais ou imaginados por Pablo Neruda. Para a crítica Sylvia Colombo, o texto constrói uma dimensão "profundamente pessoal e sensorial" da visão de mundo do chileno e funciona como um espelho de sua própria experiência.
"Nosso Corpo Estranho" (Fósforo, R$ 69,90, 120 págs., R$ 48,90, ebook), de Reginaldo Pujol Filho, convida os leitores a participarem de um experimento divertido, descreve a crítica Taís Cardoso. O livro é a exposição de um artista que nunca existiu, mas que lembra vários artistas da vida real. Nessa brincadeira, Pujol se coloca como o curador que assina os textos de apresentação das obras.
"Céleste e Proust" (trad. Renata Silveira, Autêntica, R$ 132,90, 256 págs., R$ 83,90, ebook) relembra a parceria entre o grande escritor Marcel Proust e sua governanta, Céleste Albaret. O crítico Diogo Bercito afirma que a HQ de Chloé Cruchaudet faz um retrato delicado de uma amizade marcada por uma relação de trabalho desigual.
E mais
"Não consigo evitar. Explorar a dor e a saudade escrevendo é compulsivo", conta Marcelo Rubens Paiva. O autor de "Ainda Estou Aqui" —livro que deu origem ao filme de mesmo nome, recentemente oscarizado— escreve na Folha que tem registrado acontecimentos de sua vida privada e do mundo em um novo livro. "O Novo Agora" narrará como ele atravessou o isolamento social e os tempos do "novo normal".
O ensaísta, jornalista e tradutor Christian Schwartz reuniu cartas, diários e depoimentos de Dalton Trevisan para escrever a primeira biografia do "vampiro de Curitiba". Schwartz contou ao repórter especial Fabio Victor que não teve dificuldade de conseguir acesso ao acervo pessoal de Trevisan porque foi o primeiro a pedi-lo à agente do escritor.
Ken Follett, escritor best-seller britânico, está prestes a lançar seu novo épico pelo selo Arqueiro. O Painel das Letras conta que o autor de "Mundo sem Fim" tratará da construção do monumento megalítico Stonehenge, no norte da Inglaterra, em "Circle of Days".
Além dos Livros
Ruth Gilmore, intelectual que é referência no debate sobre o abolicionismo penal, percorreu o Brasil em meados de 2024 para lançar "Califórnia Gulag". Nesse processo, ela diz ter testemunhado iniciativas que, embora pequenas, vêm moldando uma infraestrutura abolicionista no país. Em entrevista a Eduardo Sombini, Gilmore conta que o encarceramento em massa acompanha o aprofundamento da desigualdade e o aumento do poder político das forças de segurança.
Novo livro sobre "Família Soprano", uma das maiores séries já feitas, conta como a produção sobre um chefe mafioso influenciou a maneira como o mundo enxerga a televisão. O crítico Mauricio Stycer afirma que, antes dela, a TV era vista como uma mídia inferior ao cinema. A série esteve, desse modo, no centro de uma revolução que levou Hollywood para as telinhas.
Barbara Gancia discute o alcoolismo com uma leveza e uma sinceridade capazes de entreter tanto quem já bebeu quanto os curiosos em seu livro "A Saideira", que acaba de ganhar uma nova edição pela editora Matrix. Alice S., que assina o blog "Vida de Alcoólatra" na Folha, diz que "é um deleite para uma alcoólatra encontrar uma obra como esta".