A Indonésia avalia a possibilidade de proibir a construção de novos hotéis e casas noturnas em Bali para conter o excesso de turistas, a reclamação pelo barulho gerado pelos visitantes e reduzir a transformação de campos de arroz em vilas de luxo.
O governo da província de Bali, famoso por suas praias intermináveis, cultura vibrante, rica biodiversidade marinha e pontos de surfe, pediu ao governo federal para suspender novas construções comerciais em quatro pontos turísticos. A data e a duração do veto ainda estão sendo debatidas.
"O objetivo é incentivar uma indústria de turismo de qualidade", disse Ida Ayu Indah Yustikarini, chefe da divisão de marketing do escritório de turismo de Bali, em uma coletiva de imprensa nesta semana.
A administração do presidente Joko Widodo, que tomará a decisão final sobre a medida, disse concordar com tal medida. "Não mais vilas em campos de arroz... Quero que Bali seja um destino limpo, com um bom ambiente, para se tornar um destino de qualidade", disse Luhut Binsar Pandjaitan, ministro coordenador de assuntos marítimos e de investimentos da Indonésia, de acordo com o site de notícias local Detik.
[A moratória] pode ser de cinco anos, pode ser de 10 anos... [nós] vamos avaliar
Bali se junta a outros destinos turísticos que buscam atenuar o impacto do excesso de turismo. A Grécia disse este mês que iria reprimir os aluguéis de férias de curto prazo e o tráfego de navios de cruzeiro, enquanto a Itália está considerando um aumento acentuado no imposto sobre turistas.
Uma das 17 mil ilhas da Indonésia, Bali se tornou a principal atração turística do país. O sucesso do livro "Comer, Rezar, Amar" de 2006 e uma adaptação cinematográfica estrelada por Julia Roberts também ajudaram a impulsionar um boom no turismo.
A ilha atraiu 3,5 milhões de visitantes estrangeiros entre janeiro e julho deste ano, um aumento de 22% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados oficiais.
Sua crescente popularidade desencadeou uma reação negativa. Os moradores de Bali frequentemente reclamam de engarrafamentos, crimes, desenvolvimento excessivo e desrespeito pela cultura local. Autoridades indonésias também dizem que muitos visitantes excedem o prazo de seus vistos e conduzem negócios com vistos de turista.
Centenas de estrangeiros são deportados todos os anos de Bali por excederem o prazo de seus vistos e outras atividades ilegais. Um russo foi deportado no ano passado por ficar nu no Monte Agung, um dos locais mais sagrados de Bali. Este ano, um britânico foi preso por roubar um caminhão e bater o veículo no aeroporto.
Folha Mercado
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"Muitos moradores sentem que a cultura e as tradições únicas de Bali estão sendo comercializadas ou diluídas para atender ao turismo de massa", afirmou Kadek Adnyana, fundador da Associação de Aluguel e Gestão de Vilas de Bali. A rápida construção de hotéis, resorts e vilas tem sobrecarregado a infraestrutura local, disse ele.
"Esse desenvolvimento descontrolado é frequentemente visto como prejudicial à beleza natural de Bali e causando um crescimento insustentável", criticou Adnyana.
Desenvolvimentos comerciais voltados para turistas surgiram por toda Bali. O número de hotéis que receberam classificação com estrelas chegou a 541 no ano passado, contra 113 em 2000. Campos de arroz exuberantes foram destruídos para dar lugar a acomodações luxuosas, à medida que o aluguel de vilas se torna mais popular.
"A suspensão deveria ter sido implementada há muito tempo", disse Made Krisna Dinata, diretor executivo do grupo ambiental Walhi. "Bali tem excesso de construções e deve ser firme em frear os planos de desenvolvimento de infraestrutura."
Bali está à beira de uma crise ecológica devido ao impacto dos empreendimentos comerciais e de infraestrutura, disse ele. A "diminuição dos campos de arroz e áreas de manguezais, bem como a degradação costeira, certamente tornarão Bali mais propensa a desastres".
Apesar da crescente revolta dos residentes, o governo indonésio tem procurado capitalizar a popularidade de Bali. A Indonésia ofereceu vistos mais flexíveis para atrair nômades digitais. As autoridades também estão considerando um plano para fazer de Bali um centro para escritórios familiares como uma alternativa a Singapura e Hong Kong.
Mas os residentes de Bali —que é a única província de maioria hindu no país predominantemente muçulmano— dizem que prefeririam que o governo fizesse mais para criar leis para prevenir atividades ilegais por turistas, aumentar sua conscientização cultural e proteger as comunidades locais.
"Embora o turismo gere receita significativa para Bali, muitos moradores sentem que os lucros beneficiam em grande parte investidores estrangeiros e grandes corporações, em vez de negócios e comunidades locais", analisou Kadek.