Bajaj Dominar 400: ela ajuda a luta de Mahatma Gandhi pela liberdade das pessoas?

há 1 semana 2

Bajaj Dominar 400

Bajaj Dominar 400, unidade avaliada na belíssima cor preta (Foto: Portal Carsughi)

Criada na década de 1920 por Jamnalal Bajaj, o grupo deu seus primeiros passos nas duas rodas com a importação de triciclos e motos para a Índia no fim da Segunda Grande Guerra em 1945. Desde então cresceu exponencialmente e se tornou um titã global entre os fabricantes de motos. Hoje o grupo tem mais de 40 empresas, está presente em mais de 70 países e possui mais de 100.000 funcionários, com um valor de mercado de USD 167 bilhões…

Como de costume, antes de escrever, estudo as empresas que produzem o que estou avaliando. O caso da Bajaj me gerou enorme curiosidade, pois tem uma ligação forte com uma das pessoas que mais admirei na história da humanidade: Mahatma Gandhi.

Como tudo começou?

O fim da Segunda Guerra Mundial colocou muitas nações em uma mesma página, a da reconstrução de países e sociedades inteiras. E isso gerou uma enorme oportunidade de negócios que muitos capturaram. Foi o caso de Jamnalal Bajaj, empresário indiano que era considerado por Gandhi como seu “quinto filho”, uma vez que ele tinha apenas 4. Bajaj e Gandhi nutriam uma filosofia de vida muito parecida: ambos eram lutadores convictos pela liberdade. Além disso, Bajaj era um confidente de Gandhi. Isso por si só já faz com que a história do grupo seja muito interessante e digna de estudo, não apenas pelos números financeiros robustos.

Jamnalal Bajaj

Jamnalal Bajaj e fotos dos scooters feitos na Índia, fruto da parceria com a italiana Piaggio (Fotos: Reprodução/Bajaj Auto)

Como foi o início nas duas rodas?

Em 1948 começou a importação na Índia, com um scooter Vespa da italiana Piaggio, que 11 anos depois, em 1959 começaram a ser produzidos localmente. Em 1971 lançaram seu primeiro veículo de 3 rodas, que é globalmente conhecido como um modelo que tinha preço acessível e revolucionou o transporte na Europa e na Índia. E logo em 1977 lançaram o modelo de motor traseiro, largamente utilizado para transporte de passageiros e que ficou conhecido como um dos símbolos da Índia em nível global.

Bajaj

O primeiro scooter, o primeiro 3 rodas para carga e o primeiro 3 rodas para uso de passageiros (Fotos: Reprodução/Bajaj Auto)

E a primeira moto Bajaj, quando foi lançada?

Em 1981 lançam a Bajaj M50, em 1986 a KB 100 (parceria com a Kawasaki) e finalmente em 1997 seu primeiro “puro-sangue”: a Bajaj Boxer, um sucesso de vendas.

Bajaj

M50, KB 100 e Boxer (Fotos: Reprodução/Bajaj Auto)

Conversa com o CEO

Para escrever esta matéria conversamos com o CEO da Bajaj Brasil – Waldyr Ferreira, que esteve acompanhado por Jaqueline Deneka, CMO (Chief Marketing Officer).

Conversamos sobre vários aspectos importantes da operação Brasil. Um deles é a importância que a matriz está dando ao nosso país: somos única fábrica fora da Índia. Além disso, há o forte investimento na abertura de novas concessionárias. Buscam fechar 2024 com 31 unidades em 18 estados e para 2025 atingir a marca de 50. Interessante a estratégia inicial de já abrir unidades além das capitais, para atender grandes cidades do interior. Isto deve ser suficiente para apoiar a meta de mais que dobrar o market share ano que vem, gerando vendas ao redor de 3.500 motos/mês.

A manutenção de um nível de estoque de peças que garanta um atendimento rápido e que traga tranquilidade é um pilar da estratégia da gestão de Waldyr: mais de 95% dos itens mais buscados estão na prateleira. São 500 mil itens em estoque, mais de 3 mil sku’s (tipos diferentes de peças), em um depósito em Barueri. Segundo ele, se precisar de uma peça que eventualmente não está no estoque, tiram da linha de montagem ou mandam vir de avião da Índia, para agilizar a resolução de uma moto parada na concessionária. Tudo isso para mitigar a possível dúvida de um potencial cliente: se minha moto quebrar, será que vou ter que esperar muito tempo por uma simples peça? Pessoalmente acho excelente esta alocação de capital em estoque, que se funcionar, com o tempo cria um sentimento de que “ninguém fica na mão” – ponto chave para quem usa a moto no dia-a-dia.

Outro aspecto importante é o foco em se trabalhar o sentimento de pertencimento dos clientes com a marca, através de passeios (Dominar Rides) e eventos nas concessionárias. Particularmente gosto desta estratégia, que ajuda a democratizar a paixão pelas duas rodas e aumenta a retenção da marca. O mote é “Reimagine your ride” (Re-imagine seu passeio), o que é bem acertado em termos de branding. A ideia é que o cliente tenha uma experiência superior à média na loja – o que todos querem, mas poucos conseguem de fato tirar do papel. Conseguindo isso, ponto para a Bajaj e para os clientes também.

Falamos também sobre clientes que possuem a moto já com muitos quilômetros rodados. Por questões de sigilo (LGPD), não nos foi passado o contato de nenhum deles, pois adoraríamos trazer aqui um testemunho, afinal, contra fatos não há argumentos. Coincidentemente, andando com a moto, soube da história de um entregador que possui uma Dominar 400 com 104 mil km rodados sem problemas, o que é um excelente sinal.

Vamos agora falar sobre a Dominar 400

Bajaj Dominar 400

Foto: Portal Carsughi

A primeira impressão que se tem é que a equipe de design acertou neste projeto. Frente, lateral e traseira são bastante harmoniosas. Rodas, escapamento e rabeta chamam muito a atenção. Pequenos detalhes, como painel em dois níveis, protetor de mãos, bolha, apoio lombar para o garupa e soldas bem feitas nos ajudam a entender porque ela vende tão bem.

Bajaj Dominar 400

Foto: Portal Carsughi

Bajaj Dominar 400

Foto: Portal Carsughi

O motor é um monocilíndrico de 373cc de duplo comando e quatro válvulas com 40cv e 3,5kgfm, praticamente o mesmo da KTM Super Duke 390 até 2023, uma vez que para 2024 a KTM aumentou levemente a cilindrada para 399cc, mudando o curso em 4mm.

Gráficos de potência e torque (Fonte: Bajaj Brasil)

Grafico de Potencia e Torque - Bajaj Dominar 400

É um motor elástico que deixa a moto muito agradável de ser pilotada tanto na cidade como na estrada, devido a quase 80% do torque máximo aparecer já a 3.500 rpm. Aliás, este é um ponto importante. Apesar de podermos dizer que é uma naked, ela tem aspectos de conforto de uma touring, como o guidão mais para cima, protetores de mãos e a muito bem-vinda bolha citada anteriormente. Na cidade, apesar de ser uns 25 kg mais pesada que sua concorrente direta (a Yamaha Mt03), a Dominar 400 apresenta uma excelente dirigibilidade. E na estrada ela te leva com conforto em passeios a 120-130km/h ainda com reserva de potência para ultrapassagens seguras.

O câmbio, apesar de ter engates precisos, mostrou-se algumas vezes incerto para ser colocado em N. Mas o escalonamento das 6 marchas se mostrou satisfatório, fazendo bom conjunto com a embreagem macia. Para completar, os freios BYBRE (marca da Brembo), são ok para o desempenho da moto, mas poderiam ser bem melhores em frenagens de emergência.

A posição de pilotar é boa, que com uma ciclística acertada fecha bem o conjunto dinâmico. Entre pontos positivos e negativos, o saldo é extremamente positivo, não devendo esquecer que ela custa R$ 25.500,00 – um preço extremamente competitivo – e pouca coisa a mais que uma Honda CB 300 Twister, que entrega 25cv e 2,6 kgfm, portanto de uma categoria inferior.

As perguntas que precisam ser respondidas:

・ Ela é melhor que as concorrentes nacionais já estabelecidas no Brasil há mais tempo?
・ Eu compraria?

Estas perguntas precisam ser respondidas com a razão dos fatos.

Ela custa 8,5 mil reais (25%) a menos que a MT03 da Yamaha, por exemplo. Isso não é pouco, pelo contrário. Como a Z400 da Kawasaki saiu de linha e entrou a Z500, a comparação fica prejudicada. A Z500 tem um motor de 451cc de 51cv e 4,3kgfm e custa R$ 38.500,00 – 13 mil reais (51%) a mais que a Dominar 400.

Se você busca uma moto para usar no dia-a-dia e para passear no fim de semana, a Bajaj Dominar 400 é a mais indicada. Agora se você quer apenas desempenho mais agressivo – e tem um orçamento mais robusto, acho que talvez não.

Alguns poderão dizer que o fato de ser monocilíndrica traz deméritos frente aos modelos de dois cilindros. Não entendo assim. De modo prático, não há uma diferença substancial em se ter 1 ou 2 cilindros. Caso fosse contra uma tricilíndrica a coisa mudaria. O ronco é totalmente diferente. Os puristas mais técnicos que me perdoem, mas motos de 1/2 cilindros estão em uma categoria e 3/4 cilindros estão em outra, para a mesma cilindrada.

A capilaridade da rede de concessionárias pode ser um ponto. Apesar de não ser enorme, estão crescendo a todo vapor (veja o box da matéria), o que é uma ótima notícia. Então talvez esse seja um ponto a menos para se preocupar.

Em resumo: a Dominar 400 vem com a estratégia típica de todo entrante em um mercado consolidado: cobrar menos e entregar mais. E isso ela faz com maestria.

Bom produto com bom preço ajuda a mais pessoas a terem acesso ao mundo das duas rodas. E moto é sinal de liberdade. Então, respondendo à pergunta do título da matéria: sim, a Dominar 400 ajuda a luta de Gandhi pela liberdade das pessoas. Ele ficaria muito feliz em ver como a cria de seu amigo e confidente Jamnalal Bajaj está ajudando mais e mais pessoas a alcançarem a liberdade de locomoção através das duas rodas.

Por fim, eu compraria sim a Dominar 400. Na exata cor preta da unidade avaliada. Pode parecer besteira, mas o verde me remete muito às Kawasaki. Acho que o preto aqui caiu muitíssimo bem, integrando perfeitamente todos os aspectos visuais já citados.

E não esqueça nunca o nosso mantra: pilote sempre com responsabilidade. Mas jamais esqueça que o capacete ouve os demônios de tua cabeça, o escapamento grita o que tua garganta não consegue gritar e a suspensão aguenta os teus altos e baixos emocionais. A moto te leva a lugares reais e imaginários que nenhum outro veículo te leva. E junto com os cachorros, ela é o melhor amigo do Homem, sempre.

Odoardo Carsughi é engenheiro mecânico formado pela Escola de Engenharia Mauá em 1991, com MBA pela USP em 2001. Iniciou a carreira em consultoria de gestão na Accenture e acumula 29 anos de experiência em empresas multinacionais e nacionais, passando por manufatura, bens de consumo, bancos, agro e saúde.

Leia o artigo completo