Assessores de Trump preparam novas tarifas sobre importações de trilhões para o Dia da Libertação

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Os assessores da Casa Branca estão se preparando para impor novas tarifas sobre a maioria das importações a partir de 2 de abril, estabelecendo as bases para uma escalada nas hostilidades econômicas globais que o presidente Donald Trump chamou de "Dia da Libertação".

Nos primeiros dois meses de seu mandato, o presidente já aumentou as tarifas sobre cerca de US$ 800 bilhões (4,5 trilhões) em importações da China, México e Canadá, embora as estimativas variem bastante. Essas tarifas abalaram o mercado de ações, elevaram os riscos de uma recessão nos EUA e provocaram retaliações contra indústrias domésticas por parte de parceiros comerciais.

Apesar das reações negativas, assessores seniores de Trump agora prometem publicamente criar um novo regime de tarifas que imporá novos tributos ao comércio com a maioria dos países que negociam com os Estados Unidos. Uma fonte familiarizada com o planejamento interno, falando sob anonimato para refletir deliberações privadas, confirmou que autoridades da administração estão preparando tarifas sobre importações avaliadas em "trilhões" de dólares.

A possibilidade de mais que dobrar o alcance das tarifas de Trump alarmou economistas e alguns republicanos no Congresso, enquanto outros aliados da Casa Branca estão preocupados com os desafios logísticos de um novo e complexo regime de impostos sobre importações. A natureza exata dessas novas tarifas gerou extensas discussões nos mais altos escalões da administração, com o vice-presidente JD Vance, o secretário de Comércio Howard Lutnick, o assessor da Casa Branca Peter Navarro e o secretário do Tesouro Scott Bessent participando das conversas, segundo a fonte.

"Os últimos dois meses já prejudicaram empresas e consumidores americanos, mas o prazo de 2 de abril pode fazer tudo isso parecer uma tempestade em copo d'água", disse Joseph Politano, analista de políticas econômicas da Apricitas Economics. "Não sabemos exatamente o que eles vão fazer, mas, pelo que estão dizendo, parece funcionalmente como novas tarifas sobre todas as importações dos EUA."

Os preparativos internos sugerem que Trump permanece firme em sua missão de transformar a ordem comercial global, apesar do crescente desconforto entre aliados no Capitólio e em Wall Street e da indignação explícita de parceiros internacionais. Trump afirmou que as tarifas são necessárias para incentivar empresas a trazerem a produção de volta aos EUA e forçar concessões de parceiros comerciais estrangeiros, mas os impactos têm abalado investidores e consumidores, levando a quedas em vários indicadores econômicos importantes.

"É um dia de libertação para nosso país porque vamos recuperar muita da riqueza que entregamos tolamente a outros países, incluindo amigos e inimigos", disse Trump a repórteres na segunda-feira (17).

Trump nomeou a próxima etapa de sua guerra comercial como "tarifas recíprocas". O presidente adotou a ideia pela primeira vez durante sua campanha presidencial de 2024, argumentando que outros países impõem barreiras comerciais muito mais altas às exportações americanas do que o governo dos EUA cobra sobre importações. Ele disse que os EUA deveriam equiparar essas tarifas com taxas "recíprocas" que, segundo ele, forçarão outros países a reduzirem seus impostos sobre produtos fabricados nos EUA.

"Se a Índia, a China ou qualquer outro país nos atingir com uma tarifa de 100% ou 200% sobre bens fabricados nos EUA, nós os atingiremos com a mesma tarifa exata", disse Trump em um vídeo divulgado durante a campanha presidencial. "Em outras palavras, 100% é 100%. Se eles cobram dos EUA, nós cobramos DELES – olho por olho, tarifa por tarifa, mesma quantia exata."

Embora muitos países protejam mercados específicos com altas barreiras comerciais, a maioria das economias avançadas mantém perfis tarifários semelhantes. Com base em uma média ponderada pelo comércio, a tarifa média dos EUA é de 2,2%. A do Japão é de 1,9%, e a da União Europeia é de 2,7%, ligeiramente superior à média americana, segundo a Organização Mundial do Comércio.

O plano recíproco de Trump poderia elevar a tarifa média dos EUA ao nível do início dos anos 1930, cerca de 20%, disse Edward Gresser, ex-oficial de comércio e atual vice-presidente e diretor de comércio e mercados globais do Progressive Policy Institute. Gresser afirmou que as ações de Trump seriam sem precedentes, e muitos especialistas argumentam que o presidente não tem autoridade para impor tarifas tão amplas sem aprovação do Congresso.

Como esse plano funcionaria na prática tem consumido os oficiais da administração enquanto tentam executar a visão ambiciosa do presidente. O representante comercial dos EUA é responsável por implementar o plano, mas não está claro se o escritório de comércio tem pessoal ou capacidade organizacional para impor tarifas retaliatórias exatas que correspondam ao que outros países cobram sobre bens específicos, disse outra fonte informada sobre o planejamento interno, também sob anonimato. A complicação adicional é que a administração quer atingir uma gama de práticas comerciais que considera injustas, não apenas tarifas.

Autoridades da administração debatem qual autoridade legal o presidente pode invocar para impor um sistema recíproco, segundo uma fonte familiarizada com o assunto, que falou sob anonimato para discutir deliberações internas.

Trump tem poder sob as leis comerciais existentes para impor algumas tarifas imediatamente, como sobre bens da China, cobertos por uma investigação de 2018 sobre práticas comerciais chinesas. Uma lei comercial de 1930 permite ao presidente impor tarifas de até 50% sobre bens de um país que ele determine estar discriminando produtos americanos.

Impor novos impostos sobre outras importações pode exigir meses de trabalho preparatório. Jamieson Greer, principal representante comercial do presidente, e o secretário de Estado Marco Rubio estão entre os mais atentos às questões legais do plano de Trump, querendo que qualquer ação resista a um desafio judicial, disse a fonte. Navarro, conselheiro sênior da Casa Branca para comércio e manufatura, está entre os que pressionam por uma ação rápida e agressiva, acrescentou.

Oficiais da administração consideraram uma proposta de agrupar todos os parceiros comerciais em três categorias – alta, média ou baixa – e atribuir uma taxa tarifária correspondente. Mas a ideia foi rejeitada em favor de calibrar uma nova taxa tarifária para cada parceiro comercial, disse uma das fontes. A ideia de classificar países em três categorias e sua rejeição foram relatadas primeiramente pelo Wall Street Journal.

Bessent, o secretário do Tesouro, disse na Fox Business na terça-feira (18) que a administração considerará uma ampla gama de fatores ao determinar tarifas sobre países estrangeiros, incluindo manipulação de moeda, "supressão trabalhista" e outras "barreiras não tarifárias". Os EUA atribuirão um número a "cada país" que será alto para alguns e baixo para outros, ajudando a determinar sua taxa tarifária, disse Bessent. Ele também expressou otimismo de que muitas tarifas não entrarão em vigor porque os países concordarão em alterar suas próprias tarifas antes do anúncio de 2 de abril.

Um porta-voz da Casa Branca disse que os oficiais da administração estão amplamente alinhados.

"Embora o plano final de tarifas recíprocas para 2 de abril ainda não tenha sido revelado pelo presidente Trump, todos os membros da administração Trump estão alinhados em finalmente nivelar o campo de jogo para as indústrias e trabalhadores americanos", disse o porta-voz Kush Desai em comunicado. "O presidente Trump reuniu a melhor e mais brilhante equipe comercial da história americana moderna para reacender a grandeza americana, e eles estão trabalhando duro seguindo o mesmo roteiro."

Seja qual for a estrutura, o novo regime tarifário provavelmente abalará ainda mais os mercados globais e uma economia doméstica já impactada pelas súbitas movimentações comerciais de Trump. Em Wall Street, o índice S&P 500 perdeu mais de 8% no último mês; o Nasdaq, focado em tecnologia, caiu quase 13% no mesmo período.

"Acho que eles estão preocupados, e deveriam estar", disse o economista Ed Yardeni, presidente da Yardeni Research, que fornece análises de mercado, sobre como os investidores veem o prazo de 2 de abril.

Um indicador amplamente observado de confiança do consumidor caiu na sexta-feira para seu nível mais baixo desde novembro de 2022, e a perspectiva de inflação de cinco anos dos americanos subiu para uma taxa anual de 3,9%, a mais alta desde 1993.

Na terça-feira (18), o governo informou que a produção manufatureira em fevereiro cresceu acentuadamente, alcançando seu nível mais alto em mais de dois anos. Mas analistas disseram que o salto provavelmente foi uma reação temporária ao frenesi de anúncios tarifários do presidente.

"Os fabricantes correram para produzir bens em fevereiro antes que grandes tarifas sobre importações pudessem ser impostas, além de atender a um pico temporário de pedidos induzido por tarifas de famílias e empresas", escreveu Samuel Tombs, economista-chefe dos EUA da Pantheon Macroeconomics.

O aumento provavelmente será de curta duração. Novos pedidos caíram em fevereiro, à medida que os fabricantes aumentaram os preços para compensar o custo mais alto dos metais e componentes chineses usados na fabricação de seus produtos, acrescentou Tombs, citando a última pesquisa do Institute of Supply Management.

Enquanto isso, dezenas de indústrias – incluindo pescadores comerciais, produtores de árvores de Natal e fabricantes de geleias e compotas – alinharam-se nas últimas semanas para pedir proteção tarifária contra concorrentes estrangeiros como parte das disputas comerciais da administração.

John Wyckoff, presidente da National Christmas Tree Association, pediu tarifas mais altas sobre árvores de Natal artificiais, dizendo que 95% das árvores artificiais importadas vêm da China, "onde custos de produção mais baixos, decorrentes de mão de obra e materiais baratos, permitem que produtores estrangeiros subcotem os produtores domésticos".

As importações de camarão congelado reduziram os preços domésticos para cerca de US$ 1,25 (R$ 7,10) por libra, em comparação com cerca de US$ 3 (R$ 17,05) na década de 1980, segundo a Southern Shrimp Alliance, que busca tarifas protetoras. O impacto da concorrência estrangeira está sendo sentido por motoristas de caminhão, fornecedores e processadores que atendem à frota de pesca comercial.

Michael Madriaga, vice-presidente da J.M. Smucker Co., reclamou que tarifas da UE de até 24% mantêm as vendas de geleias, compotas e marmeladas americanas em um fluxo mínimo no continente. No último ano, os EUA enviaram à Europa apenas US$ 295 mil (1,6 milhão) desses itens, em comparação com quase US$ 238 milhões (R$ 1,3 bilhão) de produtos europeus similares enviados aos EUA, escreveu Madriaga, citando estatísticas do governo.

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