Após disparada, pobreza na Argentina cai para 38,1% no primeiro ano da gestão Milei

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Após um ano de sucessivas reduções no índice de inflação mensal, a taxa de pobreza na Argentina ficou em 38,1% no final do ano passado, o primeiro do governo de Javier Milei, mostram dados oficiais divulgados na tarde desta segunda-feira (31).

É uma redução de 14 pontos percentuais em relação à disparada do indicador no semestre anterior, quando a pobreza alcançou 52,9% na largada da gestão do ultraliberal, o maior número das últimas duas décadas, fruto de fatores como o fim dos subsídios estatais.

A redução no indicador não causou surpresas, pois já era amplamente esperada e projetada por centros de estudos devido ao estancamento da corrosão dos salários à medida que a inflação foi controlada, em uma redução de mais de 20 pontos percentuais no indicador em um ano, chegando a 2,4% em fevereiro passado. Os salários, ainda que lenta e comedidamente, também passaram a crescer acima da inflação.

Ainda assim, o dado não deixou de levar o governo a bater o bumbo. Em especial, devido a um fator adicional: o de que o atual índice de pobreza está abaixo inclusive daquela observada no final do governo de Alberto Fernández e de Cristina Kirchner (41,7%), administração peronista com um pacote de medidas econômicas oposto ao de Milei.

O Instituto Nacional de Estatística e Censo argentino, o Indec, que é responsável pelo cálculo, estabelece a linha da pobreza na Argentina com base no valor da cesta básica total, nome que dá à cesta básica de alimentos somada a bens e serviços como saúde e transporte. Com valores corrigidos pela inflação, em dezembro passado o montante estava em 356.300 mil pesos (R$ 1.906).

O Indec também calcula a taxa de indigência, uma camada abaixo da pobreza. Neste caso, a linha divisória é marcada pelo valor da cesta básica de alimentos, sem incluir serviços e bens. Em dezembro, era de 156.200 (R$ 835). Esse indicador também foi reduzido e chegou a 8,2% no final do ano passado, ante 18,1% no semestre anterior.

Outro fator relevante para essa mudança foi o de que os ingressos mensais das famílias passaram a crescer acima do crescimento do valor da cesta básica na segunda metade do ano passado. Contas como água e luz, no entanto, começaram a ocupar uma parcela cada vez maior desses gastos, dado que a Casa Rosada cortou os subsídios dos setores.

Folha Mercado

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Essa redução numérica expressiva na pobreza é confirmada em um momento importante para Javier Milei, quando seu governo está às portas de um acordo de US$ 20 bilhões com o FMI (Fundo Monetário Internacional) que agora precisa da luz verde do conselho do organismo para sair do papel.

Observar essa redução no cotidiano das principais cidades argentinas, no entanto, ainda é difícil. O consumo local segue em queda (-9,8% em fevereiro passado, por exemplo), e o número de pessoas em situação de rua cresceu. Na capital, Buenos Aires, o aumento foi de 23,2% em novembro passado em relação ao mesmo mês do ano anterior.

Acadêmicos do Observatório da Dívida Social, um respeitado projeto ligado à Universidade Católica Argentina, dizem que a forma como se calcula a pobreza tem escondido disparidades. O grupo diz que, ainda que os níveis de pobreza e de indigência do final de 2024 tenham sido similares e mesmo menores que os de um ano antes, se mantém um "piso estrutural de pobreza crônica difícil de quebrar". O Observatório calcula que 29% de todos os trabalhadores estejam abaixo da linha da pobreza e diz que a não ser que sejam criados melhores empregos, com melhores salários, especialmente para o setor informal (mais de 50% da população em idade ativa no país), isso não deve mudar.

O desemprego na Argentina estava em 6,4% no final do ano passado, ante 5,7% um ano antes. O mercado de trabalho se viu desafiado, entre outras coisas, pelo paralisação das obras públicas pelo governo.

"Há uma acentuação de privações estruturais nos lares pobres. A pobreza multidimensional aumenta, assim como a insegurança alimentar, a impossibilidade de pagar por medicamentos e serviços de saúde, a impossibilidade de fazer reformas em casa e outros indicadores de qualidade de vida", diz o Observatório da Dívida Social.

Em ano de eleição legislativa no país, quando cerca de 1/3 do Congresso será renovado, a popularidade de Milei segue boa, ainda que tenha sido afetada pelo recente escândalo do criptogate.

Pesquisa da AtlasIntel de fevereiro mostrava Milei com 48,4% de desaprovação e 47,4% de aprovação popular. Era uma singela alta em relação a janeiro, quando a aprovação foi de 46,8%. O levantamento tinha margem de erro de 2 pontos, para mais ou para menos.

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