Amor é trilha, não trilho

Em tempos onde até o endereço de casa vai pro GPS pra não perder tempo e garantir o melhor caminho, caímos na armadilha de querer que o amor siga uma rota otimizada. "Pra onde essa relação tá indo?" e "onde isso vai dar?" surgem cedo. Em busca de segurança e de um destino idealizado, inviabilizamos trajetórias lindas, que não precisam de uma intenção preestabelecida. Amor é trilha, não trilho.

Na trilha, não há destino certo. O grande programa é o passeio, o durante. Isso convida a viver o enquanto, em vez de esperar pra ser feliz só na próxima estação. Esse amor tira o peso de uma mochila de certezas que achamos ser essencial carregar. Vejo muitos corações emocionados evitando encontros lindos por medo de se machucar ou magoar o outro por não saberem exatamente o que querem. A verdade? Ninguém sabe o que quer nem onde isso vai dar. Amor é mais deriva do que destino.

Na trilha, "desvios de percurso" não são descarrilamentos; são caminhos que se tecem no agora. Apesar de até poder existir um caminho principal, há sempre a chance de desvios de rota. Nela há espaço. Para o erro, para mudanças e adaptações —que não são falhas, mas a própria vida: incontrolável, imprevisível e linda.

O "amor trilha" permite pausas e velocidades diferentes. Talvez um de nós queira andar mais rápido e tudo bem. Ainda que em ritmos distintos, seguimos juntos. É o espaço onde nos perdemos e reencontramos, subvertendo relógios e regras. Não é preciso seguir uma aceleração única e constante.

Desde que troquei o trilho por trilhas, tenho vivido amores lindos. Tornei-me uma mulher aberta ao hoje, soltando o freio de mão do afeto sem que isso signifique compromissos com o futuro. Com isso as pessoas nos atravessam de jeitos bonitos, em clareiras de conversas e encontros poéticos cheios de intencionalidade. Enquanto for gostoso, vivo assim —e recomendo.

Que em 2025 você desligue o GPS sentimental e se aventure em amores trilhas, de um caminhar bonito e presente, mais sentido do que entendido.