Ameaça de Trump foi muito pior, mas tarifa mínima de 10% ainda terão grande impacto

há 1 dia 5

Quando o presidente americano, Donald Trump, defendeu a ideia de uma tarifa global de 10% durante a campanha, muitas pessoas, sejam a favor ou contra, ficaram surpresas com o quão radical era a ideia.

Soaram alarmes sobre inflação mais alta, perda de empregos, crescimento mais lento ou recessão. A perspectiva parecia tão absurda que a maioria dos economistas e analistas de Wall Street que simularam as possibilidades tendiam a tratar uma tarifa de 10% simplesmente como uma ferramenta de negociação.

Agora, após uma rápida série de anúncios da Casa Branca que prometeu, impôs, reverteu, adiou, diminuiu e aumentou tarifas, a solução de 10% parece ser a escolha mais moderada em vez de a mais revolucionária, especialmente agora que uma guerra comercial acirrada entre China e Estados Unidos está em pleno vapor.

No entanto, as tarifas de 10% não perderam seu impacto.

Nesse nível, tarifas universais ainda atingem mais de 10 vezes o volume de importações do que aquelas visadas durante o primeiro mandato de Trump, e são significativamente mais altas e abrangentes do que qualquer coisa que os Estados Unidos tentaram em mais de 90 anos.

A taxa tarifária é "bastante extrema", disse Carsten Brzeski, economista-chefe da zona do euro no ING, um banco holandês. "Isso ainda nos leva de volta a níveis vistos pela última vez durante a década de 1930."

Além das medidas direcionadas à China, Trump intensificou uma longa lista de impostos punitivos —incluindo uma tarifa fixa de 10% sobre a maioria das importações— em 9 de abril.

"Para o consumidor americano, isso significa que tudo vai ficar mais caro", disse Brzeski.

Pesquisadores estimaram anteriormente que uma tarifa de 10% custaria à família americana média entre US$ 1.700 (R$ 9.996) e US$ 2.350 (R$ 13.818) a mais por ano.

Folha Mercado

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Mudar, por exemplo, para uma marca americana mais barata de mostarda em vez de uma francesa pode economizar menos do que o esperado para um consumidor. Quando as tarifas sobre um produto estrangeiro aumentam, os fabricantes nacionais podem aproveitar a oportunidade para aumentar seus próprios preços, descobriram os economistas.

Neil Shearing, economista-chefe do grupo Capital Economics, disse que sua equipe retrabalhou suas perspectivas no dia seguinte à eleição de Trump, assumindo que haveria uma tarifa generalizada de 10%, bem como impostos mais altos sobre importações chinesas e de automóveis.

"Era extremo, mas não era implausível", disse Shearing. A inflação aumentaria e a produção cairia, mas a revisão não previa que os Estados Unidos mergulhariam em uma recessão.

Ainda assim, as suposições sobre os níveis tarifários eram consideradas radicais na época. "Passei dois meses e meio apenas conversando com clientes que diziam: 'Você não pode realmente achar que isso vai acontecer'", disse Shearing.

Hoje, com políticas tarifárias ameaçando virar a economia global de cabeça para baixo, tal relatório seria recebido com alívio.

Economistas e formuladores de políticas ainda estão esfregando os olhos, maravilhados que um presidente americano sozinho tenha jogado o mundo em tal turbulência econômica e depois celebrado.

A confiança dos consumidores e empresas despencou. A incerteza está paralisando compras, desde uma nova casa ou carro até uma nova fábrica. Os investidores sinalizaram sua falta de fé na economia dos EUA vendendo títulos do Tesouro, o refúgio tradicional quando as perspectivas escurecem.

Claro, o conflito entre os Estados Unidos, o maior consumidor do mundo, e a China, o maior fabricante do mundo, está ofuscando outras medidas. Washington e Pequim atingiram um ao outro com tarifas de três dígitos, juntamente com uma série de outras restrições comerciais sobre itens críticos como minerais de terras raras, ímãs e semicondutores.

Trump falou de tarifas adicionais sobre chips e produtos farmacêuticos, enquanto a China e outros países consideram como retaliar.

O pacote total de tarifas em vigor até agora poderia fazer o comércio mundial cair 5% este ano, de acordo com uma estimativa da consultoria Oxford Economics divulgada na segunda-feira (14). Isso é comparável ao que aconteceu quando a pandemia paralisou o comércio em 2020, ou quando o mundo afundou em uma recessão em 1975.

Tal queda no comércio removeria bilhões de dólares em bens e serviços que o mundo produz, e cortaria o crescimento geral projetado em 1%, disse Oxford.

China e Estados Unidos impulsionam grande parte da economia global. Se suas fortunas sofrerem, também sofrerá o resto do mundo, particularmente economias pobres e emergentes, que encontrarão menos demanda por seus próprios bens e serviços.

Países africanos, por exemplo, não comercializam muito com os Estados Unidos, mas vendem commodities importantes como petróleo e cobre. Esses preços estão caindo à medida que crescem os temores de uma recessão mundial. E isso significa que um país exportador de petróleo como a Nigéria provavelmente ganhará menos dinheiro, apertando ainda mais os orçamentos governamentais e prejudicando sua capacidade de pagar dívidas.

Grande parte do dano econômico esperado poderia ter sido evitado se as tarifas não tivessem sido implementadas de maneira tão caótica. Se houver uma recessão nos Estados Unidos este ano, disse Shearing da Capital Economics, essa entrega desastrada poderia ser o que a empurrou além do limite.

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