A inflação dos alimentos tende a subir menos em 2025, mas deve seguir pressionando o bolso do brasileiro em um patamar acima da média geral do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), projetam economistas.
A carestia da comida afeta sobretudo a população pobre, que, proporcionalmente, destina uma parcela maior do orçamento para a compra dos produtos básicos.
Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, diz que o cenário "não é confortável", apesar da desaceleração prevista para 2025.
Por ora, ela projeta alta de 7,25% para os preços da alimentação no domicílio no acumulado do próximo ano, após variação estimada de 8,6% em 2024. Os números são superiores aos esperados para o IPCA como um todo em 2025 (5,15%) e 2024 (4,9%).
"A alimentação vai ficar acima da inflação geral. É uma pequena desaceleração de um ano para o outro porque o clima pode ajudar um pouquinho", afirma Andréa.
O economista Fábio Romão, da consultoria LCA, tem opinião semelhante. "O humor da população em relação aos preços dos alimentos vai continuar ruim. O nível de preços subiu muito, e a gente herdou isso da pandemia", diz.
A fala de Romão é uma referência à disparada da alimentação no domicílio em 2020 (18,15%), 2021 (8,24%) e 2022 (13,23%). Os preços tiveram uma leve redução em 2023 (-0,52%), a primeira desde 2017, mas voltaram a subir em 2024.
Problemas climáticos reduziram a oferta de mercadorias ao longo deste ano e, assim, pressionaram parte dos produtos. O dólar alto também foi visto como um elemento de pressão.
Folha Mercado
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Os dados fechados do IPCA de 2024 ainda não são conhecidos. O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) vai divulgar os resultados no dia 10 de janeiro.
"O nível de preços, mesmo que tenha tido algum alívio em 2023, ainda está muito alto. Teve uma piora em 2024, e no ano que vem [a alta] continua", diz Romão.
Ele prevê inflação de 8,7% para os alimentos consumidos no domicílio no acumulado de 2024. A variação, segundo o economista, deve desacelerar para a faixa de 5,5% em 2025.
As estimativas dele para a alimentação também são maiores do que as altas previstas para o IPCA como um todo. Romão projeta avanços de 5% para o índice geral neste ano e de 4,7% no próximo.
O IPCA é a medida oficial de inflação no Brasil, e um dos componentes é a alimentação no domicílio. Em novembro, esse subgrupo teve um peso de 15,4% no índice, conforme o IBGE.
A consultoria MB Associados prevê altas de 9,2% e 7,7% para os alimentos em 2024 e 2025, respectivamente.
Os números da instituição também estão acima das estimativas para o IPCA em termos gerais (4,8% em 2024 e 4,5% em 2025).
Projeção é de safra maior
Conforme economistas, a perspectiva de recuperação da safra de grãos é um dos fatores que tendem a contribuir para uma alta menor dos alimentos em 2025, na comparação com 2024.
O IBGE projeta um crescimento de 7% na produção no campo. A expectativa é de uma colheita de 314,8 milhões de toneladas de grãos.
"Prevemos um aumento da produção, sendo uma recuperação das perdas que tivemos em 2024", disse Carlos Barradas, gerente do LSPA (Levantamento Sistemático da Produção Agrícola), em nota divulgada pelo IBGE em 12 de dezembro.
O técnico destacou que, apesar da demora para o início das chuvas, os agricultores conseguiram plantar rapidamente as lavouras.
A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), por sua vez, espera safra recorde de grãos. A expectativa é de produção de 322,4 milhões de toneladas. Isso representaria um aumento de 8,2%.
Churrasco ainda caro
Além da possível recuperação dos grãos, melhores condições de produção de alimentos in natura, como frutas e hortaliças, também devem contribuir para a desaceleração dos preços no ano que vem, aponta Romão, da LCA.
Para as frutas, ele projeta uma alta de 6,9% em 2025, após aumento de 13,4% em 2024. Para as hortaliças e as verduras, a expectativa é de baixa de 6,9% no próximo ano, depois de avanço de 3,8% neste ano.
No caso das carnes, a perspectiva ainda é de um avanço de dois dígitos em 2025: 17%. A variação está abaixo da estimada para este ano (21,3%).
Após um período de alívio, os preços das carnes passaram a pressionar o IPCA no segundo semestre de 2024.
Em parte, a carestia estaria relacionada com a oferta menor devido ao avanço das exportações. A demanda interna aquecida com os ganhos de renda da população também teria contribuído para o avanço dos preços.
Andréa Angelo, da Warren, prevê alta de 14,8% para os cortes bovinos em 2025, após aumento de 23% em 2024.
"Pode ter uma acomodação dos preços da arroba do boi no atacado, mas, de qualquer maneira, não é um cenário bom para a alimentação no domicílio", avalia.
Ela afirma que o registro de choques na inflação dos alimentos, além de afetar o orçamento das famílias, também espalha efeitos pelos serviços. Isso porque o setor inclui bares e restaurantes.
Segundo a consultoria Datagro, a carestia da carne bovina também poderá impulsionar uma alta nos preços de cortes de frango e suínos no médio prazo. Frango e porco são considerados produtos alternativos, já que custam menos do que opções bovinas.
"Esse repasse ainda não foi completamente sentido nessas proteínas, o que pode fazer com que a carne de frango (e em um segundo momento também os ovos), por ser a mais consumida, ganhe relevância como indutora da inflação para alimentos no próximo ano, considerando que os consumidores poderão migrar sua preferência de consumo em um cenário em que a carne bovina permanece em patamares elevados", diz a consultoria.