'A águia pousou': como o segundo maior diamante do mundo foi encontrado

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Há pouco mais de um ano, Lucas Ntsipe prometeu ao seu CEO William Lamb que produziria algo especial na mina de Karowe, em uma parte remota de Botsuana. Na manhã de segunda-feira (19), o assistente de gerente geral de 52 anos da mineradora de diamantes canadense Lucara entregou.

"Recebi uma ligação de um dos meus engenheiros, que disse: 'Descobrimos algo'", disse Ntsipe. "Eu disse: 'Você está louco e não está me dizendo a verdade. Talvez seja uma garrafa quebrada.'"

Ntsipe correu para a área de classificação dos diamantes, onde o principal classificador revelou a descoberta: o segundo maior diamante de qualidade de gema do mundo, pesando incríveis 2.492 quilates.

Depois de tocar na pedra, Ntsipe deu a notícia ao diretor local, Naseem Lahri. "A águia pousou", ele gritou ao telefone. "Essa águia é grande e essa águia pousou." Lahri então passou a mensagem para Lamb.

A história remonta até o pouso na lua em 1969, quando Neil Armstrong proferiu a mesma frase. Naquele mesmo ano, o kimberlito AK6, um corpo de rocha ígnea rico em diamantes e formado por erupções vulcânicas, foi descoberto no nordeste de Botsuana pela De Beers, maior mineradora de diamantes do mundo.

No entanto, o potencial do local não foi reconhecido pela De Beers, força monopolística da indústria na época, que considerou ser muito pequeno e de baixa qualidade. A reavaliação começou em 2003, com a De Beers eventualmente vendendo uma participação majoritária no projeto de diamantes AK6 —conhecido como mina Karowe— para a Lucara em 2009, por US$ 49 milhões.

"Quando a empresa fez a análise, não assumiu [que faria] grandes descobertas", disse Adam Lundin, filho de Lukas Lundin, um dos fundadores da Lucara. "Mas o que foi encontrado é super especial."

A Lucara posteriormente comprou o parceiro minoritário e investiu US$ 120 milhões para desenvolver uma mina a céu aberto e uma instalação de processamento, que começou a produção em 2012.

"Tínhamos uma compreensão do potencial que o recurso tinha", disse Lamb, que foi diretor e CEO da Lucara por uma década. Ele retornou à empresa no ano passado, depois que a liderança de cinco anos de Eira Thomas foi ofuscada por um orçamento que havia aumentado devido a uma expansão subterrânea de US$ 683 milhões em Karowe.

Três anos após o início da produção, um minerador desenterrou o Lesedi La Rona, uma gema preciosa branca de 1.109 quilates que foi vendida por US$ 53 milhões —mais do que a Lucara havia pago pela participação da De Beers.

O Lesedi La Rona poderia ter sido vendido por ainda mais. A gema só foi encontrada após passar pelo moinho da mina, envolvendo quedas de 5 metros, e por britadores que submetiam o material frágil a uma pressão enorme.

Quando recuperado, outra gema de 374 quilates, que se encaixava como uma peça de quebra-cabeça no Lesedi La Rona, foi encontrada, sugerindo que o diamante original havia sido dividido. "O Lesedi provavelmente tinha mais de 2.000 quilates antes de chegar à planta de processamento", disse Lamb ao Financial Times.

O erro levou a Lucara a instalar tecnologia de transmissão de raio-X, a um custo de US$ 17 milhões, em sua instalação de recuperação. A tecnologia funciona reconhecendo e separando as pedras preciosas por sua densidade atômica, permitindo que os mineradores capturem gemas grandes antes que sejam colocadas em perigo.

A instalação pareceu premonitória: pessoas próximas à Lucara estimam o valor da nova pedra em mais de US$ 40 milhões. Alguns veteranos da indústria preveem que poderia ser acima de US$ 60 milhões.

A pedra é a maior descoberta de qualidade de gema desde que o diamante Cullinan foi descoberto há 120 anos na África do Sul. Pouco depois, ele foi cortado e usado nas Joias da Coroa Britânica.

A descoberta pode transformar o setor de diamantes e elevar o perfil global de Botsuana —principal produtor mundial— reacendendo a magia, intriga e maravilha que levaram os diamantes a ocupar o centro do palco no mundo do luxo no século 20.

O gosto por pedras extraídas tem sido notavelmente contido ao longo da última década, à medida que a concorrência de pedras cultivadas em laboratório e, mais recentemente, os gastos decadentes com luxo minaram o setor de joias de diamantes de US$ 83 bilhões.

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"Não poderia haver momento melhor para chamar a atenção para o mercado de diamantes", disse Lamb. "Isso precisa ser usado para despertar interesse." Por enquanto, a pedra está armazenada em uma instalação de alta segurança no parque de tecnologia de diamantes de Gaborone, monitorada 24 horas por dia pela polícia e militares. "Temos segurança excessiva", acrescentou Lamb.

O Instituto Gemológico da América em Botsuana não possui equipamentos grandes o suficiente para analisar as propriedades da pedra, tornando incerto para onde o diamante irá a seguir. Lamb disse que os diamantários —artesãos responsáveis por cortar, polir e transformar um diamante bruto— com equipamentos convencionais de análise só podem ver 2 cm dentro do diamante, que mede 11 cm x 6 cm x 6,5 cm e pesa 500 g.

As consultas de vendas já estavam chegando, disse Lamb, com uma, por exemplo, sugerindo que seu champanhe combina com a cor da pedra. Lucara exploraria marcas de luxo, museus, colecionadores e famílias reais como potenciais compradores, disse o CEO.

A Graff, casa de luxo britânica que comprou o Lesedi La Rona —que significa "nossa luz" em Setswana, o idioma mais falado em Botsuana— alavancou a pedra para criar perfumes nomeados após a gema.

Uma das próximas decisões é de como nomear a pedra preciosa. Provavelmente o nome será escolhido por meio de uma competição nacional em Botsuana, como a Lucara fez em 2019 com outra descoberta, o Sewelô, de 1.758 quilates. O nome significa "achado raro" e foi proposto por Gofaone Tlhabuswe, um morador da vila de Gabane, que ganhou US $3 mil.

A indústria de diamantes de Botsuana tem sido um exemplo de como a extração de recursos pode beneficiar as economias locais, representando 80% das exportações e um terço das receitas fiscais, evitando a corrupção e a má gestão frequentemente chamada de "maldição dos recursos".

"Botsuana mostrou que, com liderança clara e um espírito de parceria entre governo e indústria, é possível converter a riqueza dos recursos naturais de um país em progresso social e econômico para os cidadãos", disse Rohitesh Dhawan, CEO da ICMM, a entidade global de comércio de mineração.

Ntsipe, que costumava andar 7 km para a escola e cuja bolsa de estudos para o Canadá foi financiada pela indústria, espera que a descoberta ajude os diamantes a recuperarem seu brilho. "Eu sei que as crianças lá fora vão se beneficiar dos lucros", disse ele, acrescentando que "isso mostra às pessoas que há uma história a ser contada em torno dos diamantes".

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