Renda média do trabalho bate recorde com mercado ainda aquecido e saída de informais

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A renda média do trabalho da população ocupada no Brasil chegou a R$ 3.343 por mês no trimestre até janeiro, segundo dados divulgados nesta quinta (27) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Com o resultado, o indicador bateu recorde na Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), que começou em 2012. Esse rendimento é calculado em termos reais –a série histórica é ajustada de acordo com a inflação.

Ao marcar R$ 3.343, a renda média cresceu 1,4% em relação ao trimestre imediatamente anterior, finalizado em outubro (R$ 3.298). Também avançou 3,7% na comparação anual com o trimestre até janeiro de 2024 (R$ 3.224).

William Kratochwill, analista da pesquisa do IBGE, disse que o recorde pode ser associado a pelo menos dois fatores. O primeiro, conforme o pesquisador, é o mercado ainda aquecido.

A população ocupada com algum tipo de trabalho até encolheu ante o trimestre até outubro, após sucessivos recordes, mas segue em patamar alto para a série. O contingente foi estimado em 103 milhões até janeiro, 0,6% abaixo do período até outubro (103,6 milhões).

Conforme o IBGE, a redução da população ocupada teve o impacto do fechamento de vagas informais, que tradicionalmente pagam menos.

Esse é o segundo fator citado por Kratochwill para explicar o recorde da renda. Ou seja, com a saída dos informais do mercado, o rendimento de quem seguiu empregado teve avanço na média.

A taxa de informalidade foi de 38,3% no trimestre até janeiro, o que correspondeu a 39,5 milhões de trabalhadores informais.

O percentual ficou abaixo dos 38,9% do período até outubro, o equivalente a 40,3 milhões. A taxa mede a quantidade de informais em relação ao total de ocupados no mercado.

"O preço do trabalho tende a aumentar quando a oferta [de profissionais disponíveis] diminui. O aumento da média salarial pode estar acontecendo por isso, o mercado está aquecido", afirmou Kratochwill.

"Também tivemos redução de muitos trabalhadores sem carteira. Historicamente, essa população tem menor média salarial. Juntando esses fatores, temos uma explicação possível", acrescentou.

No caso do rendimento, a máxima anterior da série havia sido registrada no trimestre até julho de 2020 (R$ 3.335), durante a pandemia. À época, o resultado havia sido puxado pela saída de informais do mercado, devido aos impactos da crise sanitária.

Os sucessivos aumentos da renda beneficiam os trabalhadores, mas, sem ganhos de produtividade, tendem a trazer desafios para o combate à inflação, dizem economistas. Em uma tentativa de frear o aumento dos preços, o BC (Banco Central) vem subindo os juros no Brasil.

"Este cenário de mercado de trabalho forte ajuda a estimular a atividade econômica e o PIB, mas dificulta o controle da inflação, especialmente a de serviços", diz Claudia Moreno, economista do C6 Bank.

Conforme o C6, o BC deve subir a taxa Selic em 1 ponto percentual, para 14,25% ao ano, em março. "Esperamos que a taxa básica de juros termine o ano em 15%", afirma Claudia.

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