O diretor de contabilidade do Santander, Alexsandro Broedel Lopes, está sob investigação criminal no Brasil por suposta apropriação indevida de fundos enquanto trabalhava como diretor financeiro do Itaú Unibanco.
Documentos revisados pelo Financial Times mostram que promotores federais brasileiros instruíram a polícia este mês a iniciar uma investigação sobre Lopes, que deixou o maior banco do país no ano passado.
O MPF-SP (Ministério Público Federal de São Paulo) encaminhou o caso à polícia após realizar investigações preliminares sobre a suposta irregularidade, mostram os documentos.
A apuração vem ao encontro de acusações feitas pelo Itaú, em dezembro de 2024, de que Broedel se beneficiou pessoalmente das taxas pagas a um consultor externo que ele contratou em nome do banco enquanto trabalhava lá.
Broedel não foi acusado de nenhum crime, e a Polícia Federal disse que não confirma nem comenta possíveis investigações em andamento. O Ministério Público Federal afirmou que não poderia confirmar a investigação.
O ex-diretor financeiro chegou ao Santander em outubro e deve assumir como diretor de contabilidade do grupo espanhol nos próximos meses —um cargo que o tornará membro da equipe de alta administração do banco.
Ele recebeu as aprovações necessárias dos reguladores, disse o Santander. Entre elas estão o teste de "idoneidade e adequação" do Banco Central Europeu para gestores seniores.
A revelação de uma investigação policial surge após o Itaú ter movido duas ações civis contra Broedel e outros em dezembro e janeiro, com denúncias de apropriação indevida de fundos semelhantes às que agora estão sendo investigadas pela polícia.
O banco também levou as alegações ao conhecimento do Ministério Público, de acordo com os documentos vistos pelo FT.
Após investigações iniciais, durante as quais ouviu a defesa de Broedel, o promotor decidiu que uma investigação policial sobre o executivo era necessária para "determinar os fatos", mostram os documentos.
O Santander disse que Broedel era um "executivo sênior altamente respeitado" que estava "previsto para assumir como diretor de contabilidade ainda este ano", acrescentando que estava "monitorando quaisquer atualizações". O banco disse anteriormente que Broedel começaria como diretor de contabilidade no "início de 2025".
Folha Mercado
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Um porta-voz do ex-diretor descreveu as denúncias do Itaú como "infundadas e sem sentido". "Alexsandro Broedel sempre agiu de forma ética e transparente em todas as suas atividades ao longo de seus 12 anos no banco", informou o comunicado.
De acordo com o relatório do promotor, que foi enviado à polícia, e o processo civil, o Itaú afirmou que Broedel desviou fundos do banco por meio de um acordo com um consultor externo que ele havia contratado em nome do banco.
O Itaú disse que Broedel recebeu, em última instância, 40% das taxas pagas ao consultor, após o dinheiro ser transferido por meio de uma série de entidades. No total, Broedel é acusado de ter recebido ilegalmente R$ 4,86 milhões, de acordo com o processo civil.
O Itaú indicou que não conseguiu encontrar registros adequados para 16 dos 40 contratos com o consultor e afirmou que eles podem ter sido fictícios e que o trabalho pode não ter sido realizado.
Broedel também não teria informado à equipe de conformidade interna do Itaú que ele e o consultor externo eram sócios em uma empresa chamada Broedel Consultores Associados, de acordo com os documentos.
Em seu relatório enviado à polícia, o promotor disse que Broedel havia informado que as quantias recebidas do consultor eram empréstimos.
No entanto, o relatório do promotor questionou por que as transferências foram feitas por meio de empresas e não diretamente pelo consultor e por que a relação entre ele e o fornecedor não foi declarada ao Itaú. O relatório também destacou a data dos pagamentos, levantando questões sobre a "proximidade das transferências em relação aos pagamentos feitos pelo banco".
Broedel se demitiu do Itaú em julho para assumir o cargo no Santander e foi colocado em licença remunerada pelo banco brasileiro. Em dezembro, o Itaú o demitiu após descobrir as alegações contra ele, de acordo com o processo civil.
O conselho de administração do Santander concordou com a nomeação de Broedel como diretor de contabilidade do grupo em junho passado, antes das alegações virem à tona.
"O consultor mencionado pelo Itaú Unibanco já prestava serviços ao banco há décadas, muito antes de Broedel ser convidado a integrar o conselho [do Itaú]. Os serviços mencionados eram conhecidos pelo Itaú Unibanco e requeridos por diferentes áreas do banco", afirmou o porta-voz de Broedel.
"É profundamente estranho que o Itaú Unibanco levante suspeitas sobre suposta má conduta apenas após Broedel ter se demitido de sua posição no banco para assumir um cargo global em um de seus principais concorrentes. Alexsandro Broedel tomará as medidas legais apropriadas neste caso", disse o porta-voz.
Uma pessoa próxima ao Santander descreveu a investigação policial como uma "fase preliminar para determinar se uma acusação criminal pode ocorrer", acrescentando que isso não significa que necessariamente haverá uma acusação.
O Itaú se recusou a comentar.