O dólar abriu em leve alta nesta quinta-feira (27) com os investidores avaliando os dados do desemprego no Brasil e atentos com as incertezas comerciais e geopolíticas no exterior.
Nesta manhã, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que a taxa de desemprego subiu a 6,5% no trimestre até janeiro no Brasil. O indicador ficou 0,3 ponto percentual acima dos 6,2% registrados nos três meses até outubro, que servem de base de comparação.
Às 9h06, a moeda dos EUA subia 0,15%, cotada a R$ 5,8110. Na quarta-feira (26), o dólar abriu a sessão com queda leve e chegou a R$ 5,734 na mínima do dia, mas inverteu o sinal, passou a subir e fechou com forte alta de 0,76%, cotado a R$ 5,796, após a notícia de que o Brasil abriu 137,3 mil vagas formais de trabalho em janeiro, segundo dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) divulgados pelo MTE (Ministério do Trabalho e Emprego). Na máxima da sessão, atingiu R$ 5,805.
O avanço da moda americana se deu logo após o resultado do Caged, que veio bem acima das 48 mil vagas esperadas por economistas consultados pela agência de notícias Reuters. O mercado financeiro vê os dados com pessimismo, uma vez que podem significar um descontrole dos salários e dos preços, e um aumento da inflação e a permanência dos juros em patamares elevados, na percepção de investidores.
Já a Bolsa teve queda forte de 0,96%, aos 124.768 pontos, na esteira da forte geração de vagas no país e em meio à repercussão de uma bateria de resultados corporativos.
As taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) fecharam a quarta-feira com alta firme, de 30 pontos-base em alguns vencimentos.
No fim da tarde, a taxa do DI para janeiro de 2026 —um dos mais líquidos no curto prazo— estava em 14,74%, ante o ajuste de 14,588% da sessão anterior, enquanto a taxa para janeiro de 2028 marcava 14,645%, em alta de 30 pontos-base ante o ajuste de 14,348%.
O resultado de vagas criadas no Brasil no mês passado foi fruto de 2,271 milhões de admissões e 2,134 milhões de desligamentos.
O saldo de janeiro de 2025 foi menor do que o registrado em janeiro de 2024, quando foram criados 180,3 mil postos de trabalho.
Na segunda-feira (24), o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, já havia antecipado que o dado superaria os 100 mil vagas.
"Saiba que o Caged de janeiro vem com mais de 100 mil empregos criados no mês de janeiro deste ano, começando o ano gerando empregos de qualidade e vamos repetir no ano inteiro", disse Marinho em um evento sobre a ampliação da frota da Petrobras e Transpetro.
Apesar dos dados virem fortes e muito além das expectativas, o efeito no mercado de câmbio em um primeiro momento é negativo. A percepção de boa parte do mercado é de que pode haver um descontrole dos preços no país, o que eleva as preocupações em torno da capacidade do Brasil de controlá-los.
"Embora isso seja um fato positivo para a nossa economia, gerou preocupação dos investidores que interpretaram os números como um possível sinal de pressão inflacionária no futuro", afirma Cristiane Quartaroli, economista chefe do Ouribank.
Isso porque um mercado de trabalho mais forte significa aumento de consumo, o que deve aumentar os preços. Com preços mais resilientes, o Banco Central pode ter que subir mais, e por mais tempo, a taxa básica de juros (Selic), atualmente a 13,25%, para controlar a inflação. A próxima reunião será em maio.
"Não é nada ruim você ter o país crescendo, pelo contrário, é ótimo. Mas, por outro lado, quando a gente tem a economia aquecida, isso gera também inflação. Então tem que crescer com uma certa parcimônia", diz Alexandre Viotto, chefe da mesa de câmbio da EQI Investimentos.
A perspectiva de uma inflação mais alta veio destacada no último boletim Focus divulgado na segunda-feira (24). Analistas consultados pelo Banco Central passaram a ver uma inflação mais alta para 2025 e 2026 pela 19ª semana consecutiva.
Folha Mercado
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A expectativa é de que a inflação suba do patamar de 5,60% para 5,65% ao fim deste ano, e de 4,35% para 4,40%, no próximo ano.
O IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), que é uma prévia da inflação, acelerou a 1,23% em fevereiro, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgados nesta terça-feira (26).
É o maior valor para o período desde 2016 e acumula alta de 4,96% em 12 meses, bem abaixo dos 5,10% esperados pelo mercado, mas bem acima do centro da meta perseguida pelo BC de 3%, com uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
"O crescimento econômico muito rápido, sem controle, pode levar a uma desaceleração brusca, criando uma recessão futura. Quando a economia aquece demais e a inflação sobe, o Banco Central precisa 'esfriar' a economia. Se isso não for feito de forma adequada, bem calibrada, você pode acabar tendo um problema no longo prazo da economia não suportar esse aquecimento todo. Então, esse é um pouquinho do medo que a gente [do mercado] teve hoje", afirma Viotto.
Entre os fatores que podem pressionar a inflação está a liberação de R$ 12 bilhões do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) de quem foi demitido e não conseguiu acessar os recursos na rescisão por ter optado pelo saque-aniversário, como noticiado pela Folha.
A medida colocaria mais renda à disposição da população, o que também aumentaria o consumo, podendo aumentar os preços e pressionar a inflação —consequentemente, pressionando a decisão do BC sobre os juros.
Além disso, o MEC (Ministério da Educação) começou a pagar nesta terça-feira os incentivos do programa Pé-de-Meia aos alunos que concluíram o ensino médio em 2024 nas modalidades regular e EJA (Educação de Jovens e Adultos).
São R$ 1.000 pela aprovação no 3º e 4º ano e mais R$ 200 referentes à participação no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), totalizando R$ 1.200 para esses grupos.
O mercado ainda tem demonstrado um ceticismo com o governo. Em meio a queda de popularidade de Lula, os investidores temem que o presidente possa se distanciar do compromisso fiscal e ampliar gastos para atrair uma avaliação mais positiva.
Os temores dos agentes em relação às medidas fiscais eleveram o dólar ao patamar histórico de R$ 6,267 no fim do ano passado.
Pesquisa Genial/Quaest divulgada nesta quarta-feira reforça a série de más notícias envolvendo a avaliação de governo e a projeção de Lula (PT) para as eleições de 2026.
"A queda de popularidade do governo pode ser um propulsor de mais gastos relacionados a benefícios sociais. Essa é a leitura do mercado. E aí, naturalmente, vem mais receio em relação ao fiscal", diz Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
Além disso, a baixa popularidade do presidente reduz suas chances de reeleição em 2026, o que agrada aos investidores por potencialmente diminuir os riscos fiscais no médio prazo e significar uma renovação nos rumos econômicos do país.
Ainda na ponta doméstica, investidores também se mantinham atentos às articulações políticas em Brasília, com foco nas mudanças nos ministérios e em anúncios que podem impactar a área fiscal.
Na véspera, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demitiu a ministra da Saúde, Nísia Trindade, e indicou para seu lugar Alexandre Padilha, que deixará a Secretaria de Relações Institucionais.
A dança das cadeiras nos ministérios é mais uma tentativa de Lula de retomar apoio político em Brasília, em um contexto de queda de popularidade
Além disso, o Tesouro Nacional informou que a dívida pública federal caiu 0,87% em janeiro ante dezembro, para R$ 7,253 trilhões.
Já na ponta internacional, o foco do mercado esteve em torno de novos comentários do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre seus planos tarifários.
Trump agora diz que tarifas sobre México e Canadá entram em vigor em 2 de abril, aumentando as esperanças de uma nova pausa nas tarifas elevadas.
Esse tipo de postura mais branda por parte do republicano tende a desvalorizar o dólar globalmente. Isso porque os mercados avaliam que as ameaças são mais uma tática política de negociação do que um plano concreto, o que provoca perdas do dólar.
No entanto, a agenda doméstica marcada pela divulgação de dados de emprego puxou a percepção do mercado na direção contrária, elevando o dólar por aqui.
O mercado também seguiu monitorando as negociações para um acordo pelo fim da Guerra da Ucrânia entre o presidente americano e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
Com Reuters